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Em uma determinada �rea, do tamanho de 140 mil campos de futebol, � poss�vel encontrar tucanos-toco (Ramphastos toco) do Cerrado, o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) � o maior primata brasileiro � e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), animal end�mico da Mata Atl�ntica e em risco de extin��o.

H� ainda seis esp�cies de plantas at� ent�o desconhecidas pela ci�ncia, al�m de carism�ticas capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), su�uaranas (Puma concolor capricornensis) e at� mesmo uma on�a-pintada (Panthera onca), o maior felino das Am�ricas, contabilizando um total de 1.113 esp�cies da fauna e 4.768 da flora.

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Os n�meros s�o surpreendentes, principalmente se for levado em conta que a �rea em quest�o est� no munic�pio de S�o Paulo. H� uma biodiversidade latente entre o cimento, o asfalto e as poucas �reas verdes, sobretudo nos cintur�es verdes do Norte e do Sul da cidade. � o que concluiu o mais recente invent�rio de fauna e flora do munic�pio, divulgado pela Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA).

O esfor�o de fazer um invent�rio da biodiversidade da capital paulista reuniu servidores da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, institui��o parceira do Programa BIOTA-FAPESP com o Projeto Atlas Ambiental.

O levantamento da fauna silvestre � feito desde 1993 e em 2016 foram inclu�dos dados sobre a flora pela primeira vez. A equipe obt�m os dados a partir do levantamento prim�rio em mais de 100 localidades (136 localidades em 2016) e por meio do atendimento de animais silvestres entregues � Divis�o T�cnica de Medicina Veterin�ria e Manejo da Fauna Silvestre da prefeitura. Os resultados incluem ainda registros cumulativos de mais de 20 anos de trabalho e alguns estudos realizados por pesquisadores parceiros.

No caso das plantas, foi feita uma compila��o de diferentes fontes de dados, incluindo amostras de plantas herborizadas documentadas no Herb�rio Municipal, relat�rios de vistorias t�cnicas do Herb�rio Municipal e refer�ncias bibliogr�ficas como levantamentos flor�sticos ou fitossociol�gicos realizados no munic�pio desde 1911.

O que impressiona � a possibilidade de encontrar esp�cies novas e a resist�ncia n�o s� de esp�cies pouco exigentes ecologicamente, como as capivaras do rio Pinheiros, como daquelas que precisam de um ecossistema equilibrado para sobreviver.

� o caso de uma on�a-pintada de quase 100 quilos que teve tranquilo andar captado, em janeiro de 2016, enquanto passeava pelo N�cleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, limite sul da capital paulista. O flagrante foi feito por armadilhas fotogr�ficas do Instituto Pr�-Carn�voros, um parceiro do trabalho.

�Tanto o muriqui-do-sul, que ainda n�o tinha registro recente no munic�pio de S�o Paulo, quanto o sagui e a on�a-pintada s�o esp�cies exigentes ecologicamente. A presen�a deles indica uma cadeia preservada, j� que n�o suportam altera��es ambientais. � surpreendente e, sem d�vida, uma boa not�cia�, disse Anelisa Magalh�es, servidora da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente que coordenou a parte de fauna do�Invent�rio da Biodiversidade do Munic�pio de S�o Paulo � 2016, �Ag�ncia FAPESP.

Logo na estreia da pesquisa de flora no invent�rio foram registradas seis esp�cies desconhecidas pelos pesquisadores. H� ainda mais uma � �rvore da fam�lia Lauraceae � sendo analisada como provavelmente nova. Todas elas est�o relacionadas aos esfor�os de coleta realizados durante o projeto��Flora Fanerog�mica do Estado de S�o Paulo�, financiado pela FAPESP.

�A�Leandra lapae�D El Rei Souza & Baumgratz, um arbusto da fam�lia Melastomataceae, s� foi registrada at� o presente momento a partir de uma coleta realizada em uma mata ao lado de Parelheiros�, disse Ricardo Garcia, curador do Herb�rio Municipal e respons�vel pela parte de flora do invent�rio.

Cerrado na metr�pole

Fazer o levantamento da biodiversidade de uma megal�pole como S�o Paulo de forma peri�dica tem justamente a fun��o de acompanhar a evolu��o e altera��o das esp�cies no munic�pio, assim como para servir de embasamento cient�fico de pol�ticas p�blicas.

�Com esse trabalho, ficamos sabendo tanto de esp�cies que eram documentadas historicamente em alguns locais da cidade e que desapareceram, como aquelas que surgiram. Isso ocorre por causa das intensas mudan�as ambientais promovidas pela urbaniza��o�, disse Magalh�es.

O invent�rio mostra que tanto a flora como a fauna do Cerrado est�o se tornando mais presentes. �O tucano-toco, por exemplo, � uma esp�cie comum no Cerrado e que est� sendo registrada agora com maior frequ�ncia aqui�, disse.

At� mesmo a pomba asa-branca (Patagioenas picazuro) � um exemplo de coloniza��o do ambiente urbano. Na d�cada de 1990, ela era vista poucas vezes e em poucas �pocas do ano, atualmente o animal se estabeleceu em toda a cidade. �Quando os�habitatss�o reduzidos pela urbaniza��o e atividades humanas muitas esp�cies v�o desaparecer enquanto outras v�o se adaptar e aumentar suas popula��es�, disse Magalh�es.

Com a flora n�o � diferente. Do total, 47 esp�cies foram registradas pela primeira vez na cidade depois de mais de 50 anos sem coletas. S�o, portanto, esp�cies que poderiam ser consideradas extintas, mas que foram reencontradas.

�Isto pode indicar tanto falta de coletas nesse intervalo de tempo como, tamb�m, que por��es do territ�rio est�o sendo reocupadas por esp�cies campestres, dadas as atuais condi��es ambientais. Dentre estas, 20 esp�cies ocorrem nos biomas Mata Atl�ntica e Cerrado�, disse Garcia.

Originalmente, os campos cerrados, matas, vegeta��o de v�rzea e campos alto-montanos eram os tipos de vegeta��o que cobriam o munic�pio de S�o Paulo. Apenas na �rea do Centro Hist�rico � que predominavam os campos mais secos (nos morros) e vegeta��o de v�rzea nas baixadas. Hoje, essas vegeta��es originais foram quase extintas por completo. Por�m, observou-se uma intensifica��o tamb�m da flora t�pica do Cerrado nos �ltimos anos. No conjunto das 3.474 esp�cies vasculares nativas no munic�pio, 18 s�o consideradas como exclusivas do bioma Cerrado, sendo que cinco delas possuem registros recentes em ambientes naturais (n�o foram cultivadas).

O levantamento possibilitou outra constata��o importante: os parques da cidade de S�o Paulo t�m fun��o essencial ao servirem como ponto de parada para aves. �Eles d�o suporte para alimenta��o e descanso durante os deslocamentos das aves entre os fragmentos de mata. � o caso do Parque Ibirapuera, do Parque da Aclima��o e do Parque Buenos Aires, que recebem a visita da araponga [Procnias nudicolis] durante a primavera, por exemplo. A malha de parques municipais, com sua miscel�nea de vegeta��o nativa e ex�tica, tem maior relev�ncia ecol�gica para as aves florestais e migrat�rias do que se supunha�, disse Magalh�es.

A bi�loga explica que, al�m da import�ncia dos parques ser confirmada, h� ainda necessidade de acompanhar a arboriza��o urbana. �O que voc� escolhe para plantar na sua cidade vai influenciar na biodiversidade�, disse.

Ao longo dos 20 anos de realiza��o do invent�rio, ele j� serviu de base para compensa��o ambiental de grandes obras. � No fim, isso tudo depende de decis�es pol�ticas, mas com o invent�rio podemos instrumentalizar as decis�es�, disse.

Magalh�es conta que nas obras do Rodoanel, trecho sul, por exemplo, foram criados por compensa��o ambiental quatro parques naturais, com base nas informa��es do invent�rio de fauna e flora. O mesmo ocorreu com a altera��o da fia��o el�trica da Eletropaulo, em �reas rurais, para um menor risco para a fauna, baseado nos casos de eletrocuss�o relatados pela Divis�o de Fauna.

�Isso porque conseguimos provar que havia impacto e que animais estavam morrendo eletrocutados. Caso contr�rio, poderiam sempre falar que em S�o Paulo n�o tem bicho nem planta�, disse.

O�Invent�rio da Biodiversidade do Munic�pio de S�o Paulo � 2016�est� dispon�vel em:�www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/pubbiodiversidademunsp2016.pdf.