Com o intuito de engajar a comunidade brasileira neste grande desafio, idealizador participou do
Workshop Biodiversity and Biobank, realizado na sede da FAPESP
(foto: Udu-de-coroa-azul (Momutus momota)/L�o Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)

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Com o objetivo de envolver a comunidade cient�fica brasileira no projeto, a FAPESP e a Academia Brasileira de Ci�ncias (ABC) organizaram em agosto o�Workshop Biodiversity and Biobank, que contou com a presen�a de um dos idealizadores do EBP, o norte-americano Harris Lewin.

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�H� 1,5 milh�o de esp�cies j� identificadas e caracterizadas. Mas isso representa apenas 10% da biodiversidade terrestre. Cerca de 90% ainda est� para ser descoberta�, disse Lewin, que � professor de Evolu��o e Ecologia na Universidade da Calif�rnia, Davis, nos Estados Unidos.

Na avalia��o do cientista, o Brasil tem a oportunidade de contribuir fortemente para a empreitada, pois abriga cerca de 10% da biodiversidade do planeta. Al�m disso, o pa�s conta com boa infraestrutura cient�fica, uma rede global de colabora��o e cole��es biol�gicas com boa curadoria.

�Trata-se de um esfor�o crucial, pois muitas esp�cies est�o desaparecendo a uma taxa acelerada. Nos �ltimos 40 anos, 42% dos vertebrados tiveram suas popula��es reduzidas. Vinte mil esp�cies est�o amea�adas de extin��o em decorr�ncia das atividades humanas, da destrui��o de�habitats e dos efeitos das mudan�as clim�ticas. A taxa de extin��o de esp�cies � cerca de mil vezes maior do que era h� uma d�cada�, ressaltou.

Segundo Lewin, o crescimento da popula��o humana � que deve chegar a 9 bilh�es de indiv�duos em 2050 � e a r�pida mudan�a no clima terrestre colocam o planeta em uma situa��o �perigosa e desafortunada�.

�Alguns j� consideram tratar-se da sexta extin��o em massa. Isso � uma amea�a n�o apenas para essas esp�cies, mas para nossa pr�pria sobreviv�ncia no planeta�, avaliou.

Ao acessar o c�digo gen�tico de todas as esp�cies, antes que desapare�am, os membros do Earth Biogenome Project pretendem criar um reposit�rio digital da vida. Tal conquista, na avalia��o de Lewin, vai revolucionar a biologia.

�Essas informa��es v�o melhorar radicalmente os esfor�os de conserva��o de esp�cies e de restaura��o de�habitats degradados�, argumentou.

At� o momento, cerca de meia d�zia de pa�ses j� aderiram ao empreendimento, entre eles Estados Unidos, Fran�a, Inglaterra, Alemanha e China. Outras dezenas j� assinaram cartas de inten��o.

�A participa��o � volunt�ria e o papel do EBP � estabelecer padr�es para a coleta de amostras, o sequenciamento do DNA, o tipo de informa��o que dever� acompanhar as amostras e o armazenamento dos dados. Tamb�m buscaremos a melhor forma de comunicar essas a��es ao p�blico em geral para que todos possam entender sua import�ncia e colaborar. H� 1,5 milh�o de esp�cies no planeta, mas n�o h� 1,5 milh�o de cientistas. Ent�o a sociedade tamb�m precisa se engajar�, disse Lewin.

Comunidade internacional de biobancos

O pesquisador Jonathan Coddington, do Smithsonian Institution � institui��o americana que tamb�m contribuiu com a organiza��o do workshop �, esteve presente representando outra ambiciosa iniciativa internacional que almeja a participa��o de brasileiros: a Global Genome Biodiversity Network (GGBN).

Trata-se de uma rede mundial de biorreposit�rios e biobancos dedicada a abrigar cole��es de tecidos congelados ou de material gen�tico (DNA e RNA) de qualquer esp�cie terrestre � com exce��o da humana. A iniciativa come�ou em 2011 e, atualmente, conta com 66 institui��es participantes de 22 pa�ses.

�O objetivo de criar essa comunidade � poder raciocinar globalmente e estabelecer prioridades para o sequenciamento gen�mico, a conserva��o de esp�cies, o monitoramento ambiental e os estudos evolutivos que t�m base na taxonomia. Por exemplo, dos 11 mil g�neros que ocorrem no Brasil, quais s�o aqueles sobre os quais ningu�m tem informa��o gen�tica? Seremos capazes de responder perguntas como essa e indicar quem s�o os especialistas�, explicou Coddington �Ag�ncia FAPESP.

Segundo o pesquisador, depois dos avan�os propiciados pelo Projeto Genoma Humano, a comunidade cient�fica tem adotado o sequenciamento gen�tico para responder a todo tipo de pergunta relevante para o bem-estar humano, como garantir a seguran�a alimentar, produzir energia ou encontrar a cura de doen�as.

�Para isso, precisamos ter cole��es de tecido e de DNA bem preservadas, padronizadas e que sejam representativas da biodiversidade global. Os seres vivos est�o divididos em cerca de 10 mil fam�lias e 40% delas ocorrem no Brasil. O pa�s, portanto, tem recursos �nicos para contribuir para esta iniciativa e viemos aqui para discutir como organizar essas cole��es para que possam participar�, afirmou Coddington.

O pesquisador ressalta que a proposta n�o � exportar os recursos gen�ticos brasileiros e sim criar centros de sequenciamento e biorreposit�rios no pa�s. A ideia � produzir dados brasileiros. Somente as informa��es das sequ�ncias digitalizadas seriam compartilhadas internacionalmente.

�Earth Biogenome Project e Global Genome Biodiversity Network s�o iniciativas complementares. A primeira � formada por experts em sequenciamento gen�tico, mas n�o conta com pessoas acostumadas a coletar organismos em florestas ou oceanos. A GGBN promove a organiza��o dessas amostras, estabelece boas pr�ticas, acesso e compartilhamento de dados e de benef�cios�, argumentou Coddington.

Zool�gico congelado

As condi��es estabelecidas pela legisla��o brasileira para o compartilhamento de dados da biodiversidade foram abordadas por Manuela da Silva, pesquisadora da Funda��o Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Segundo ela, um dos problemas � a exig�ncia de que os dados depositados em bancos internacionais sejam rastre�veis � algo dif�cil de implementar, segundo especialistas.

O norte-americano Oliver Ryder apresentou o projeto de zool�gico congelado criado em San Diego, nos Estados Unidos. O biorreposit�rio armazena amostras de c�lulas de todos os animais abrigados na institui��o.

Segundo ele, a criopreserva��o de c�lulas permite, quando necess�rio, expandir o material gen�tico em culturas, oferecendo recursos para sequenciamento em diferentes plataformas, estudos funcionais (sinaliza��o celular, mecanismos de doen�as), produ��o de c�lulas-tronco pluripotentes induzidas e, eventualmente, resgate de esp�cies em extin��o.

Tamb�m foram palestrantes do evento Eduardo Eizirik (Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio Grande do Sul), Luciano Verdade (Universidade de S�o Paulo e Programa BIOTA-FAPESP), Vanderlei Canhos (Centro de Refer�ncia em Informa��o Ambiental - CRIA), Ana Tereza Vasconcelos (Laborat�rio Nacional de Computa��o Cient�fica - LNCC/Labinfo � MCTIC), Isabel Rodrigues Gerhardt (Embrapa) e Katherine Barney Barker (GGBN).

Na plateia, estavam curadores de diversas cole��es biol�gicas brasileiras, que, no dia seguinte ao workshop, reuniram-se com os representantes do EBP e da GGBN para discutir as necessidades e entraves para a participa��o brasileira nessas iniciativas. A partir desse debate, ser� produzido um documento no qual ser�o apresentadas a situa��o atual e a perspectiva de tornar o pa�s um dos n�s do projeto mundial � reconhecido como um dos maiores desafios da atualidade.

�Esta � uma oportunidade, neste momento dif�cil que vivemos, de mostrar que a ci�ncia � realmente importante para tornar o Brasil um pa�s sustent�vel�, avaliou Marie-Anne Van Sluys, membro da Coordena��o Adjunta - Ci�ncias da Vida da FAPESP e organizadora do workshop.

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