21/06/2018 ( Caderno:
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O mico-leo-dourado, um dos smbolos da biodiversidade da Mata Atlntica, sofre com a fragmentao das florestas e tem sua movimentao e fluxo gnico reduzidos. o que reporta um estudo recmpublicado na revista Biological Conservation, uma das principais revistas de conservao no mundo. O estudo ocorreu na Bacia do Rio So Joo, estado do Rio de Janeiro, e foi realizado porpesquisadores da UENF, Associao Mico-Leo-Dourado (AMLD), UNESP e UFSCar.
O mico-leo-dourado,Leontopithecus rosalia, um primata endmico da Mata Atlntica. Sua rea de ocorrncia restrita remanescentes florestais na Bacia do Rio So Joo, que fica no estado do Rio de Janeiro, em uma regio altamente fragmentada. A espcie quase foi extinta na dcada de 80, quando menos de 400 indivduos ocorriam em vida livre. Hoje, h mais de 3200 indivduos vivendo na natureza, graas a um projeto de conservao atualmente liderado pela AMLD, UENF e seus parceiros.
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Para salvar a espcie da extino foram realizadas as seguintes aes: (1) a reintroduo de micos nascidos em cativeiro para a vida livre e (2) a translocao de grupos sociais isolados em fragmentos florestais no litoral do Rio de Janeiro para a Reserva Biolgica da Unio. At momento, porm, permanecia uma questo em aberto que dificultava o avano dos programas de conservao: O mico-leo-dourado capaz de dispersar por reas abertas, tais como estradas e pastagens?
Entender como o mico-leo-dourado se dispersa atravs da paisagem importante para a elaborao de medidas de restaurao florestal, comenta Andria Magro Moraes, pesquisadora da UENF e ps-doc da UNESP, responsvel pelo estudo. Por diversas vezes, a implementao de corredores florestais que facilitam o movimento dos animais pode demandar um alto investimento financeiro e a deso social. Por isso, importante que os elementos da paisagem que representam barreiras para a disperso de uma espcie, sejam identificados, complementa Moraes.
Do mesmo modo, a distncia em que um elemento da paisagem impede a disperso, tambm deve ser quantificada. Uma vez restabelecida a conectividade entre os remanescentes florestais, os organismos so capazes de se dispersar com mais facilidade na paisagem, garantindo o fluxo gnico interpopulacional e permitindo sua persistncia na regio.
Ferramentas e metodologia de pesquisa
Para entender como o mico-leo-dourado se dispersa em uma paisagem fragmentada, o estudo usou ferramentas de gentica da paisagem e medidas de fluxo gnico. O DNA de 201 micos-lees-dourados de 48 grupos sociais foi extrado de amostras de pelos e investigado. A coleta das amostras de pelos uma tarefa que exige muita experincia, pois envolve o contato direto com os animais na natureza foi realizada por profissionais experientes da AMLD. Nesses 30 anos temos realizado muitos estudos com o mico. gratificante ver que nossas milhares de horas de campo tem sidorecompensadas com os avanos cientficos e novas oportunidades para a espcie, comenta Andria Martins especialista de campo da AMLD.
As amostras de pelos foram enviadas para o Laboratrio de Biodiversidade Molecular e Conservao da UFSCar, onde foram extrados todos os DNAs para possibilitar as anlises genticas.Caracterizar geneticamente os micos nos permite conhecer as semelhanas e diferenas de suas populaes. Essas semelhanas e diferenas nos do um indicativo de como esses animais esto se movendo ou no pela paisagem, reporta Pedro Galetti, professor da UFSCar e responsvel pelas anlises genticas.
At onde o mico consegue chegar?
Aps caracterizar geneticamente os animais, foram realizadas as anlises espaciais. Utilizando um arsenal de mapas, imagens e ferramentas computacionais sofisticadas como o LSCorridors (do ingls Landscape Corridors), foram simulados corredores ecolgicos para compreender como os micos esto se dispersando pela Bacia do Rio So Joo. Com o resultado, foi observado que os micos-lees-dourados se movem mais frequentemente dentro de seu territrio e vizinhana por distncias em torno de 2 km. Porm, se a paisagem estiver bem conectada e for permevel para seu movimento, eles podem alcanar longas distncias de disperso, por volta de 8 km.
Temos observado que a conectividade da paisagem um dos fatores mais importante para a conservao da biodiversidade em regies fragmentadas comenta Milton Ribeiro, do Laboratrio de Ecologia Espacial e Conservao da UNESP, e tambm autor do artigo. Desta forma, se estamos juntos na luta pelo mico, temos que fazer muito mais, como restaurar conexes importantes entre os principais remanescentes e garantir que as principais estradas que cruzam a regio permitam o fluxo de indivduos complementa Ribeiro.
Alm da estrutura da paisagem, o manejo populacional realizado pela AMLD, que inclui medidas de reintroduo e translocao, tambm influenciou a estrutura gentica populacional do mico-leo-dourado. Assim, os resultados dessa pesquisa indicam que o fluxo gnico mediado pelo homem (manejo) pode aumentar a variabilidade gentica interpopulacional. No entanto, se as populaes de micos permanecerem isoladas, devido aos efeitos da fragmentao do habitat, todos os esforos de conservao empenhados para garantir sua viabilidade populacional ao longo do tempo podem ser perdidos. Barreiras para a conectividade da paisagem tais como estradas com intenso trfego, rios, permetros urbanos, estradas pavimentadas simples, pastagens, agricultura, entre outros fatores, tm dificultado a disperso dos micos-lees dourados, nessa ordem de intensidade. Assim, esperado que alguns elementos da paisagem afetem mais drasticamente a disperso dos micos-lees-dourados, enquanto que outros podem permitir o fluxo de indivduos em curtas distncias (por exemplo, at 100 m no pasto).
Dentre as principais ameaas para o mico destaca-se a duplicao da BR-101, que j divide populaes importantes de micos e de muitas outras espcies. Com sua duplicao, muito provavelmente, as populaes ao norte e sul da BR-101 sero isoladas permanentemente, o que pode comprometer todo um trabalho de conservao da espcie. Em uma parceria AMLD-UENF-ICMBio e a empresa que gerencia a rodovia, foram propostas passagens de fauna em pontos importantes para o fluxo do mico, buscando assim, minimizar os impactos sobre aespcie.
Cabe saber agora, se tanto o mico como outras espcies utilizaro tais passagens comenta Carlos Ruiz-Miranda, professor da UENF e um dos principais pesquisadores do mico-leo-dourado. Atualmente, o projeto Mico-Leo-Dourado teve um projeto de longo prazo aprovado pela Petrobras,que permitir compreender se as passagens funcionaro ou no. Monitorar o uso dessas travessias est entre nossas principais tarefas para os prximos anos e quantificar a eficincia dessas passagens um de nossos objetivos, finaliza Ruiz.
O estudo contou com o apoio e financiamento da CAPES, CNPq e FAPESP.