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Pesquisa traa 2 mil anos da histria das chuvas no Brasil

03/07/2018 ( Caderno: Mercado Publicitário )


Registros isotpicos obtidos em cavernas revelam como
variou a distribuio de chuvas no pas durante mudanas
climticas globais que afetaram a Europa na Idade Mdia

Entre 1500 e 1850, a Europa esteve imersa na chamada Pequena Era do Gelo, perodo no qual as temperaturas mdias no hemisfrio Norte eram consideravelmente inferiores s atuais.

At agora os efeitos daquela queda de temperatura sobre o clima da Amrica do Sul eram pouco conhecidos, mas um novo estudo mostra que, nos sculos 17 e 18, o clima do sudoeste do Brasil era mais mido que o atual, por exemplo. Ao mesmo tempo, o clima do Brasil do Nordeste era mais seco. O estudo foi feito a partir da anlise de rochas de cavernas em Mato Grosso do Sul e em Gois.

Os mesmos registros de cavernas brasileiras revelaram que, entre os anos 900 e 1100, durante a chamada Anomalia Climtica Medieval perodo em que o clima no hemisfrio Norte era mais quente do que o atual , o clima era mais seco no Brasil.

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Trata-se de uma das primeiras evidncias a constatar uma relao entre as mudanas climticas observadas durante a Pequena Era do Gelo e a Anomalia Climtica Medieval no hemisfrio Norte e alteraes no padro de chuvas sobre a Amrica do Sul.

Publicado em artigo noGeophysical Research Journal, o trabalho tem como autores o fsicoValdir Felipe Novelloe o gelogo e professorFrancisco William Cruz, do Instituto de Geocincias da Universidade de So Paulo (USP), ao lado de colaboradores brasileiros, norte-americanos e chineses, e integra o projeto PIRE-CREATE,apoiado pela FAPESP.

Trabalhamos em diversas escalas de tempo. H estudos que investigam o paleoclima h dezenas ou centenas de milhares de anos. No novo estudo, investigamos alteraes climticas durante os ltimos dois milnios, disse Cruz.

Novello, primeiro autor do artigo, destaca que h evidncias abundantes de que o clima no hemisfrio Norte era mais frio durante a Pequena Era do Gelo. So evidncias histricas e culturais, como relatos escritos ou pinturas de poca exibindo o frio na Europa do sculo 17, por exemplo.

A essas evidncias se somam outras, como os registros de gases aprisionados h sculos no gelo de geleiras na Groenlndia, o registro de istopos preservados no lodo do fundo de lagos e lagoas ou ainda a anlise dos anis de crescimento das rvores.

Um problema que se enfrenta para investigar os paleoclimas do hemisfrio Sul a ausncia de dados histricos ou culturais. Na Idade Mdia, antes da era dos descobrimentos, nem os incas nem as diversas naes indgenas possuam escrita. O mesmo ocorria entre as tribos africanas e os aborgenes australianos, disse Novello.

Some-se a isso o fato de que nos trpicos quase no h geleiras, exceo daquelas no alto dos Andes. Da que precisamos encontrar outros mtodos de anlise para descobrir como era o clima do passado na Amrica do Sul. No grupo do professor Cruz, viajamos pelo Brasil coletando amostras de rochas no interior de cavernas. A composio dos istopos de oxignio no carbonato de clcio depositado ao longo de sculos e milnios para formar espeleotemas [estalagmites e estalactites] indica se o clima era mais seco ou mais mido no passado, disse.

Istopos da seca e da chuva

Para entender como foi que Novello detectou os perodos de maior ou menor umidade no paleoclima brasileiro, antes necessrio explicar como se chegou aos resultados. O trabalho baseado na anlise isotpica do oxignio das molculas de carbonato de clcio dos espeleotemas das cavernas.

Istopos so variantes de um elemento qumico. Enquanto todos os istopos de um dado elemento compartilham o mesmo nmero de prtons, cada istopo difere dos outros em seu nmero de nutrons. Assim, o elemento qumico oxignio tem em seu ncleo 8 prtons e 8 nutrons, no caso do oxignio 16 (16O). J no caso do oxignio 18 (18O), so 8 prtons e 10 nutrons.

H, na natureza, aproximadamente um tomo de oxignio 18 para cada mil tomos do oxignio 16, explicou Novello. Como o oxignio 18 mais pesado do que o 16, quando comea a chover as molculas de gua com o oxignio 18 precipitam primeiro.

Em consequncia, ocorre uma elevao relativa da quantidade de oxignio 16 na nuvem de chuva em relao quantidade de oxignio 18, agora necessariamente menor dado que a maior parte do oxignio 18 original precipitou como chuva. Quando chove muito, muda a isotopia da chuva, disse.

Para saber como tal mudana no regime de chuvas pode ser aferida em climas passados, Novello e Cruz recorreram ao registro da relao oxignio 16/18 preservado no carbonato de clcio dos espeleotemas das cavernas.

Quando a chuva cai em regies de Carste, ou seja, aquelas formadas por rochas carbonticas (como o calcrio), ocorre a formao de cavernas. A gua pluvial entra em contato com o gs carbnico (CO2) dissolvido no ar e no solo. O resultado dessa reao qumica uma gua ligeiramente cida, que vai penetrando no solo at chegar s rochas calcrias subterrneas.

A rocha calcria insolvel em gua de pH neutro, mas dissolve em presena de gua cida (pH ligeiramente negativo), o que leva formao das cavidades subterrneas naturais a que damos o nome de cavernas.

Os pesquisadores explicam que a formao de espeleotemas ocorre quando a gua da chuva que penetrou no solo (carregando carbonato de clcio) atinge o teto da caverna. O gotejar lento e contnuo ao longo de milhares de anos vai precipitando o carbonato de clcio dissolvido em cada gota na forma de espeleotemas, que acaba por se acumular no teto da caverna formando estalactites e no piso da caverna formando estalagmites.

O carbonato de clcio que porventura no precipitou no teto da caverna depositado em seu piso em camadas que do forma s chamadas estalagmites. Os espeleotemas preservam a assinatura isotpica do oxignio da chuva que caiu na poca da deposio de cada camada de carbonato de clcio.

Ao analisar os istopos de oxignio no carbonato de clcio dos espeleotemas, a partir da razo encontrada entre o oxignio 16 e o 18 consegue-se inferir se o clima era mais seco (relativamente mais 18) ou mais mido (relativamente menos oxignio 18) quando do momento da deposio de determinada camada de calcrio, disse Novello.

Ento, por exemplo, em uma regio onde chove muito, a tendncia achar nos espeleotemas uma sequncia de camadas com quantidade relativamente menor de oxignio 18. Inversamente, em regies de clima seco, a pouca chuva que cai tem relativamente mais oxignio 18. Essa gua, ao penetrar no solo e dissolver o carbonato de clcio, acaba por formar espeleotemas com uma quantidade relativamente maior de oxignio 18, disse.

Datao das rochas e anlise isotpica

Valdir Novello coletou amostras de rocha de duas estalagmites da gruta Jaragu, em Bonito (MS), e de estalagmites das grutas So Bernardo e So Mateus, localizadas no Parque Estadual de Terra Ronca, em Gois.

Na gruta Jaragu foram coletadas duas amostras de duas estalagmites diferentes. Uma delas mede 13 centmetros e, de acordo com o mtodo de datao urnio/trio, cresceu continuamente por 800 anos, entre 1190 e 2000, o que abarca o perodo da Pequena Era do Gelo (entre 1500 e 1850). A segunda amostra, com 28 centmetros, se formou continuamente entre os anos 442 e 1451, englobando a Anomalia Climtica Medieval (entre 900 e 1100).

Em Gois, Novello coletou na gruta So Bernardo uma amostra de rocha com 37 centmetros, cobrindo o perodo entre os anos 1123 e 2010, o que engloba a Pequena Era do Gelo. Da gruta So Mateus saiu uma amostra com 17 centmetros, acumulada no intervalo de tempo entre 264 e 1201, o que compreende o perodo da Anomalia Climtica Medieval.

O perfil de oxignio 18 nas amostras da gruta Jaragu exibe uma leve tendncia em direo a valores mais leves de oxignio entre os anos 400 e 1400, o que sugere um clima levemente mido no territrio do Brasil central daquele perodo (que abarca a Anomalia Climtica Medieval no hemisfrio Norte).

Depois de 1400, os valores do oxignio 18 nas amostras da gruta Jaragu comeam a declinar at 1770, sinalizando o aumento da umidade durante o perodo, que corresponde Pequena Idade do Gelo no hemisfrio Norte. Posteriormente, a tendncia invertida e os valores aumentam novamente at 1950, sinalizando a queda da umidade desde ento.

O registro de oxignio 18 do Brasil central baseado nas estalagmites das grutas So Bernardo e So Mateus, em Gois, no apresenta uma tendncia. O registro mostra alguns eventos midos abruptos, como os perodos midos prolongados entre 680 e 780 e entre 1290 e 1350, e eventos midos mais curtos ocorrendo por volta de 1050, 1175 e 1490.

Por outro lado, o perodo mido documentado no registro da gruta Jaragu durante a Pequena Era do Gelo, entre 1500 e 1850, consistente com as condies midas favorecidas pela passagem da chamada Zona de Convergncia do Atlntico Sul (ZCAS), que uma faixa de nebulosidade de orientao noroeste/sudeste que se estende desde o sul da regio amaznica at a regio central do Atlntico Sul.

A Zona de Convergncia do Atlntico Sul a massa de nebulosidade responsvel pela ocorrncia de chuvas prolongadas na regio Sudeste. Os istopos contam toda a histria dessa massa mida andando pelo continente, disse Novello.

Sabe aqueles dias em que chove bastante em So Paulo? Sempre que chove cinco dias seguidos porque a nebulosidade da Zona de Convergncia do Atlntico Sul est estacionada sobre So Paulo. A grande seca de 2014 foi causada pela no formao da Zona de Convergncia do Atlntico Sul naquele ano, disse Cruz.

Em um trabalho anterior, feito com registros isotpicos das grutas do municpio de Iraquara, na Bahia, Novello havia inferido que, durante a Pequena Idade do Gelo, no Nordeste portanto fora da Zona de Convergncia do Atlntico Sul prevalecia um clima mais seco.

Os dados dos espeleotemas de Bonito, quando associados a dados paleoclimticos peruanos conhecidos, indicam que, durante a Pequena Era do Gelo, a Zona de Convergncia do Atlntico Sul estacionava com maior frequncia mais a sudoeste, sobre uma faixa de terra que vai do Peru at So Paulo, passando pelo Mato Grosso do Sul. Por outro lado, os dados das grutas de Gois e de Iraquara sugerem que, durante a Pequena Era do Gelo, a Zona de Convergncia do Atlntico Sul no chegou a Gois, Bahia e ao Nordeste. A Zona de Convergncia do Atlntico Sul estacionou toda na regio sudoeste. Com isso, o Nordeste ficou mais seco, disse Novello.

Embora os registros das duas grutas de Gois (e outras trs grutas) no exibam uma mudana significativa na proporo mdia de oxignio 18 durante o perodo da Anomalia Climtica Medieval e durante o intervalo de tempo da Pequena Era do Gelo, eles mostram uma forte variabilidade na escala de tempo decenria e centenria durante o perodo de transio da Anomalia Climtica Medieval para a Pequena Era do Gelo (entre 1100 e 1500).

Resumindo, os registros dos espeleotemas investigados por Novello e por Cruz indicam que, durante o perodo de clima mais quente no hemisfrio Norte (a Anomalia Climtica Medieval), o clima por aqui era mais seco, e que durante a Pequena Era do Gelo do hemisfrio Norte o clima no sudoeste do Brasil era mais mido, enquanto no Brasil central e no Nordeste eram mais secos.

Quando comparamos nossos dados com outros dados isotpicos da Amrica do Sul, verificamos a existncia de outros perodos mais secos no passado. A chuva no foi muito bem distribuda nos ltimos 1600 anos, disse Cruz.

Zonas de convergncia

Existe uma coerncia entre as mudanas climticas na Amrica do Sul e os dados climticos do hemisfrio Norte. O clima da Terra est todo conectado. Se houver anomalias nas regies de alta latitude, isto ir refletir nos trpicos, disse Cruz.

De acordo com Novello, quando olhamos os dados do paleoclima durante a Pequena Era do Gelo vemos mais frio por aqui, mas os padres de chuva mudaram. Da se constata que se o clima esfria no hemisfrio Norte, chove mais no hemisfrio Sul. A convergncia da umidade acaba vindo para o sul. Inversamente, quando o clima aquece no hemisfrio Norte, chove menos no hemisfrio Sul.

Nas regies equatoriais do planeta existe uma banda de nebulosidade chamada Zona de Convergncia Intertropical. Ela se localiza onde a superfcie do mar est mais quente. Tal regio mais quente cria uma zona de baixa presso para onde converge toda a umidade, caindo assim mais chuva, disse Novello.

Durante a Pequena Era do Gelo, quando era maior o diferencial entre o clima mais frio ao norte e o clima ameno ao sul, os ventos que convergiam desde o hemisfrio Norte para a Zona de Convergncia Intertropical carregavam mais umidade do que fazem atualmente. Isso contribua para o aumento de nebulosidade na Zona de Convergncia Intertropical, que por sua vez avanava sobre o equador no sentido leste-oeste, saindo do Atlntico e penetrando na Amaznia, onde comeava a chover torrencialmente. Era quando todo o oxignio 18 acumulado nas nuvens precipitava.

O esfriamento do Atlntico Norte durante a Pequena Era do Gelo intensificou os ventos alsios de nordeste, o que favoreceu o transporte de umidade para a Amaznia. o contrrio do que ocorre nos anos em que os alsios de nordeste so menos intensos, que tendem a ser anos mais secos, disse Cruz.

Uma vez que a nebulosidade da Zona de Convergncia Intertropical atinge a Amaznia, ela contribui para alimentar a Zona de Convergncia do Atlntico Sul com umidade mais rica em oxignio 16. A ento, a Zona de Convergncia do Atlntico Sul avana na direo noroeste-sudeste, atravessando o Brasil em direo ao Atlntico Sul.

Quando as nuvens permanecem saturadas de umidade, chove muito ao longo do trajeto da Zona de Convergncia do Atlntico Sul. Trata-se de uma chuva com maior relao de oxignio 16. A maior prevalncia desse istopo que acaba sendo registrada nos espeleotemas.

Durante a Anomalia Climtica Medieval, o clima mais quente no hemisfrio Norte formou uma zona de baixa presso para onde convergiram ventos midos do Atlntico Sul. A Zona de Convergncia Intertropical se deslocou mais para o norte. A Amrica do Sul ficou toda seca, disse Cruz.

O artigoTwo millennia of South Atlantic Convergence Zone variability reconstructed from isotopic proxies(https://doi.org/10.1029/2017GL076838), de V. F. Novello, F. W. Cruz, J. S. Moquet, M. Vuille, M. S. de Paula, D. Nunes, R. L. Edwards, H. Cheng, I. Karmann, G. Utida, N. M. Strkis e J. L. P. S. Campos, est publicado emhttps://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1029/2017GL076838.


Fonte: Agncia Fapesp / imagem: Novello e outros / Geophysical Research Journal


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