26/09/2017 ( Caderno:
Seção Saúde )
Pesquisadores do Brasil e do Texas comearam a testar em humanos uma nova estratgia para aumentar a eficcia da anestesia tpica odontolgica.
Trata-se de um pequeno dispositivo contendo 57 microagulhas que, ao ser colocado na gengiva, na bochecha ou em qualquer outro local da boca a ser anestesiado, cria pequenos furos pelos quais substncias anestsicas como a lidocana penetram alcanando regies um pouco mais profundas da mucosa oral.
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O tema foi destaque na manh de quinta-feira (21/9) durante o simpsioFAPESP Week Nebraska-Texas, nos Estados Unidos.
Como explicou Harvinder Gill, professor do Departamento de Engenharia Qumica da Texas Tech University (UTT), em Lubbock, a anestesia tpica usada pelos dentistas para diminuir o desconforto de seus pacientes durante a aplicao da anestesia injetvel, necessria para procedimentos mais invasivos como o tratamento de cries, extrao de dentes ou cirurgias.
Uma injeo muito profunda necessria para adormecer a rea a ser tratada ou para bloquear um nervo. E essa injeo costuma ser dolorosa, pois os mtodos convencionais de anestesia tpica tm pouca penetrao e eficcia, disse Gill.
Na avaliao do pesquisador, o medo da injeo um dos principais fatores que levam os pacientes a desenvolver fobia de dentista e a evitar tratamentos odontolgicos, o que impacta negativamente a sade oral da populao.
Essa situao causa ansiedade tanto nos pacientes como nos dentistas, podendo comprometer os resultados do tratamento, afirmou.
No mbito de umprojetofinanciado pela FAPESP e realizado em parceria entre Gill e a pesquisadora Michelle Leite, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), est sendo avaliada a viabilidade dessa nova estratgia para liberao de frmacos para a mucosa oral.
Entre nossos objetivos esto mensurar a dor causada pelas microagulhas, que tm cerca de 700 micrmetros de comprimento cada, e determinar a eficcia desse sistema para aumentar a ao da anestesia tpica, disse Gill.
O mtodo j foi testado em 10 pacientes em um ensaio preliminar e, segundo Gill, foi bem tolerado.
Semeando parcerias internacionais
A parceria entre Gill e Leite foi firmada no mbito do FAPESP So Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT), uma estratgia de organizao que consiste no anncio simultneo de oportunidades de colaborao da FAPESP com diversos parceiros no exterior e que oferece financiamento para a fase inicial de colaboraes internacionais em pesquisa (seed funding) visando estabelecer projetos conjuntos de mdio e longo prazo.
Outros trabalhos aprovados no mbito do SPRINT foram apresentados na manh de quinta-feira, durante o simpsio realizado em Lubbock, Texas, entre eles oestudocoordenado por Sonia Marli Zingaretti, da Universidade de Ribeiro Preto (Unaerp), e Kameswara Rao Kottapalli, do Centro de Biotecnologia e Genmica da UTT. O objetivo da dupla identificar variveis genticas que tornam certos cultivares de cana-de-acar mais resistentes ao estresse causado pela presena de alumnio no solo.
As plantaes de cana esto se disseminando pelo Brasil, inclusive pelo Cerrado, onde o solo tem bastante alumnio. Essas molculas so txicas para a planta, pois interferem no desenvolvimento das razes e reduzem a produtividade, explicou Zingaretti.
O grupo selecionou cultivares considerados mais e menos resistentes a esse tipo de estresse e sequenciou nessas plantas todas as molculas de RNA e de microRNA que estavam sendo expressas. Agora, os pesquisadores realizam anlises para identificar quais genes so determinantes para proteger a planta ou torn-la suscetvel.
Outro projeto colaborativo apresentado no evento tem como foco estudar o impacto, na sade reprodutiva de peixes, causado pela interao entre desreguladores endcrinos (substncias capazes de interferir na ao de diversos hormnios importantes para o organismo) e aquecimento global.
Otrabalho coordenado por Ricardo Hattori, da Agncia Paulista de Tecnologia dos Agronegcios (APTA), e Reynaldo Patio, do Departamento de Manejo de Recursos Naturais da UTT.
J se sabe que alteraes na temperatura da gua podem causar reverso no sexo de peixes. O aquecimento, por exemplo, pode induzir a converso de um animal de sexo gentico feminino para o sexo masculino. Por outro lado, diversos sistemas aquticos j esto repletos de contaminantes com aes similares s de hormnios sexuais, que tambm podem influenciar na determinao do sexo de peixes, contou Hattori.
Segundo o cientista da APTA, ainda no se sabe ao certo o que a combinao desses dois fatores (disruptores endcrinos e aquecimento global) podem causar nos animais. possvel que um potencialize a ao do outro, como tambm pode ocorrer inibio e isso que o projeto tenta compreender.
Os insetos sociais pertencentes famlia dos membracdeos, que apresentam formas bastante inusitadas, so o tema doprojeto coordenado por Monica Tallarico Pupo, da Faculdade de Cincias Farmacuticas de Ribeiro Preto (FCFRP), da Universidade de So Paulo (USP), e por Amanda Brown, do Departamento de Cincias Biolgicas da UTT. A pesquisa busca conhecer o complexo sistema de microrganismos que vivem em simbiose com esses invertebrados, que contam com at seis bactrias e fungos intracelulares distintos interagindo e fornecendo funes metablicas essenciais para o hospedeiro.
Segundo Pupo, o objetivo final identificar potenciais agentes teraputicos para doenas que afetam humanos.
O professor Chris Rock, do Departamento de Cincias Biolgicas da UTT, apresentou seuprojetorealizado em colaborao com Ivan de Godoy Maia, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu. A dupla investiga genes envolvidos na produo de compostos bioativos em plantas, como antocianinas.
Andrea Jackowski, da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp), e suas colaboradoras da UTT, apresentaram oprojeto colaborativo voltado a estudar os efeitos do estresse txico sobre o neurodesenvolvimento, a cognio e os aspectos scioemocionais em crianas e adolescentes no Brasil e nos Estados Unidos.
J Naima Moustaid-Moussa, do Grupo de Pesquisa sobre Obesidade da UTT, e Theresa Ramalho, do Instituto de Cincias Biomdicas da USP, falaram sobre umestudo que busca entender os mecanismos pelos quais os cidos graxos do tipo mega 3 protegem animais de laboratrios submetidos a dieta hiperlipdica contra o desenvolvimento de doenas metablicas e inflamatrias. O trabalho tambm coordenado pela professora do ICB-USP Snia Jancar.