Pesquisadores da Unicamp e dos Estados Unidos produzem,
por meio de impresso 3D, estruturas com alta
resistncia mecnica baseadas em modelos
matemticos criados por Karl Schwarz em 1880
Em 1880, o matemtico alemo Karl Hermann Amandus Schwarz (1843-1921) idealizou estruturas com geometrias complexas, em que as superfcies so mnimas e peridicas (com padres que se repetem) e com curvatura negativa, como as de uma sela de cavalo.
Mais de 100 anos depois, em 1991, o fsico mexicano Humberto Terrones e o qumico ingls Alan Mckay propuseram que a incluso de anis de carbono com mais de seis tomos em uma malha hexagonal de grafite poderia dar origem a estruturas peridicas com curvatura negativa, como as que Schwarz imaginou, e semelhante dos zelitos minerais com estrutura porosa e tridimensional.
Essas estruturas cristalinas esponjosas, denominadas schwarzitas por Terrones e Mckay, em homenagem ao matemtico alemo, poderiam ter centenas de tomos e clulas porosas e dar origem a materiais rgidos semelhantes espuma, com caractersticas e propriedades mecnicas e eletromagnticas incomuns. Essas estruturas, contudo, s existiam em teoria.
Agora, um grupo de pesquisadores do Instituto de Fsica Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW-Unicamp), vinculado aoCentro de Engenharia e Cincias Computacionais(CECC) um dos Centros de Pesquisa, Inovao e Difuso (CEPIDs) financiados pela FAPESP , conseguiu, em colaborao com colegas da Rice University, dos Estados Unidos, encontrar uma maneira prtica de gerar esses materiais em escala real.
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A tcnica para construo e os resultados de experimentos de avaliao da resistncia dos materiais compresso e ao impacto foram descritos na revistaAdvanced Materials. Conseguimos gerar em escala macroscpica materiais que s existiam em escala atmica, disse Douglas Galvo, professor do IFGW-Unicamp e um dos autores do estudo, Agncia FAPESP.
Para obter o material, os pesquisadores projetaram inicialmente, por meio de algoritmos computacionais, modelos em escala atmica de estruturas porosas de duas famlias diferentes de schwarzitas, a primitiva e a giromana.
Os modelos moleculares da famlia primitiva continham 48 e 192 tomos por unidade de clula, respectivamente, enquanto os modelos da famlia giromana tinham 96 e 384 tomos. As estruturas possuam superfcies mnimas peridicas, conforme as que foram concebidas originalmente por Schwarz.
Os dados das quatro estruturas moleculares foram compilados por um software de modelagem computacional, em modelos tridimensionais. Os modelos foram impressos em polmero, na forma de cubos e na escala de centmetros de comprimento, por impressoras 3D.
A ideia foi desenvolver um material com propriedades exticas, como a schwarzita, em escala atmica, construir um modelo em macroescala a partir dele e imprimir essa estrutura em escala real, por meio de uma impressora 3D, para verificar se ele mantm essas propriedades, como a de altssima resistncia, explicou Galvo.
Testes de resistncia
Os pesquisadores avaliaram a resistncia compresso e ao impacto mecnico tanto das estruturas em nvel atmico por simulao , como dos modelos impressos em 3D.
Os resultados indicaram que as estruturas apresentam alta resistncia ao impacto e compresso mecnica em nvel atmico e em macroescala, devido a um mecanismo de deformao em camadas.
Ao aplicar fora em um lado do material, ele se deforma lentamente e de forma no homognea. Isso porque os poros das camadas mais altas, que sofrem mais diretamente a presso, se fecham primeiro e, na sequncia, fecham os abaixo deles.
Esse mecanismo de deformao do material muito semelhante ao das conchas marinhas, que tem uma matriz mineral, composta por calcita, e uma camada de protenas que absorve presses extremas, sem fraturar, ao transferir o estresse em todas as suas estruturas, disse Galvo.
O que interessante no caso das estruturas de schwarzitas que geramos que elas so compostas de apenas um material o polmero PLA, usado em impressoras 3D , e no dois, como as conchas, que tm a matriz mineral e a parte orgnica juntas, ressaltou.
Os resultados dos ensaios tambm mostraram que as estruturas de schwarzitas apresentam uma resilincia notvel sob compresso mecnica. Elas podem ser reduzidas metade do seu tamanho original antes de apresentar falha estrutural (fratura).
Os testes indicaram que a carga aplicada foi transferida para toda a geometria das estruturas, independentemente de qual lado foi comprimido, tanto nas simulaes das estruturas em nvel atmico como nos modelos impressos.
Nos surpreendeu que algumas caractersticas das estruturas em escala atmica foram preservadas nas estruturas impressas em 3D, disse Galvo, que estuda nanoestruturas por meio de simulaes computacionais de dinmica molecular.
A caracterstica do material que mais surpreendeu os pesquisadores, entretanto, foi a resistncia mecnica. Ao soltar quase 10 quilogramas do material a uma altura de 1 metro ele no quebrou.
Estamos analisando agora outra famlia de schwarzita, com estrutura muito parecida com a do diamante. Os resultados so ainda mais impressionantes. No foi possvel quebrar o material com as mquinas para testes de resistncia disponveis no CNPEM [Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais]. Essa alta resistncia do material proporcionada por sua topologia, disse Galvo.
Resistente e complexo
Algumas das possveis aplicaes das estruturas de schwarzitas geradas pelos pesquisadores so em proteo balstica em coletes prova de bala e em componentes resistentes a impactos e altas cargas para edifcios, carros e aeronaves.
Como um polmero, no sabemos se, ao ser usado em um colete prova de bala, o calor de uma bala poderia fundi-lo localmente. Pretendemos realizar ensaios para verificar isso, disse Galvo.
Os pesquisadores pretendem agora refinar as superfcies das estruturas com impressoras 3D de maior resoluo e reduzir a quantidade de polmero para tornar os blocos ainda mais leves. Outra ideia utilizar materiais cermicos e metlicos em maior escala, e no somente na forma de blocos, para construir estruturas ultraduras.
Temos uma receita, agora, para buscar na literatura estruturas interessantes, em escala atmica, e que nunca foram sintetizadas por sua complexidade, e criar modelos delas em macroescala, avaliou Galvo.
O artigoMultiscale geometric design principles applied to 3D printed schwarzitas(doi: 10.1002/adma.201704820), de Seyed Mohammad Sajadi, Peter Samora Owuor, Steven Schara, Cristiano F. Woellner, Varlei Rodrigues, Robert Vajtai, Jun Lou, Douglas S. Galvo, Chandra Sekhar Tiwary e Pulickel M. Ajayan, pode ser lido na revistaAdvanced Materialsemonlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/adma.201704820/abstract.
Vdeo sobre o processo de construo das estruturas de schwarzitas
Fonte: Agncia Fapesp / Foto Divulgao Rice University