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O Campanário da Fé. Por Osmar Antonio Mammini

30/09/2015 ( Caderno: Opinião )

Lavarone Bertoldi, é uma mancha circundada de um anfiteatro de bosques, um mar de árvores de troncos altos e de posição enfileirada frente a uma encosta em declive.

O terreno é ondulado em suaves colinas que mais parecem plataformas de "belvederes" naturais donde se admira o fantástico panorama ao redor.

Os campos inundados do verde da flora alpina se escancaram à vista com milhares de flores desabrochando no calor do verão que avança. Assim o manto verde da vegetação se tinge de cores das flores que se iluminam ao toque do sol na exaltação da natureza que desperta.

Do campo úmido se elevam nuvens que acolchoam os prados de flores. Neste cenário de fábula surge o bairro de Bertoldi onde se situa o Campanário da Fé.

As casas separadas por paredes seculares encostadas umas nas outras estão dispostas em linhas tortuosas. Elevadas num declive de um palmo de terra, escancaram as janelas sobre o maravilhoso espetáculo circundante. Nos telhados porém, que uma vez declarado pelos "sábios" guardiões do "Comprensorio dell'Alta Valsugana", era proibido trocar as telhas quebradas ou velhas para não deturpar o espírito rústico local. Agora porém, despontam as mastodônticas trapeiras pelas mansardas que com suas janelas desproporcionais e feias, são uma afronta ao bom gosto, uma desonra à verdadeira beleza rural do vilarejo.

O bosque na encosta consolida a terra e protege as casas dos ventos incômodos.

A lenha empilhada contra as paredes parece querer dar apoio ao aprumo das casinhas alpinas.

As pequenas hortas parecem minúsculos pedaços de terra orgulhosos e belos, delimitados por pequenas estacas em fila. Elas aprofundam os odores de uma verdura sadia, perfumada e nutriente. Tratadas com amor pelos camponeses, com suas enxadas amaciando a terra que nutre as plantas.

Os antigos estábulos abandonados, "viúvos" das vacas que o progresso levou, fazem chorar os velhos que lembram com nostalgia os famosos "filò" onde todos reunidos trocavam estórias enquanto as mulheres se soltavam e as crianças de boca aberta ouviam maravilhas.

Tommaso - cabeça de homem esculpida na pedra dura acha-se num canto, à borda de uma fonte, atrás das casas e ao pé do caminho que leva ao Belém. Continua a ver passar o tempo e grupos de obstinados catadores de cogumelos. Está ali, a mais de cem anos, a escorrer água mediante dois tubos instalados na boca aberta, em duas vascas abaixo. Não se trata de uma escultura artística nem de uma cabeça estilizada, é uma figura rude, maciça e sem graça feita com um ponteiro e martelo de alguém que cortava pedras para construir os muros de sustentação. O rosto é alongado, a cabeça em forma de pêra, a testa ampla, os olhos redondos esbugalhados. As pupilas que ressaltam mediante uma aresta são sem luz. O nariz que sai da fronte é reto, duro; os zigomas postos em evidência, as orelhas aparecem coladas atrás da face, a boca cavernosa, aberta como aquela da "Verità" existente em Roma.

Foi esculpida por um certo Sr. Piccinini vindo de Milão, segundo contou o tio Matteo Bertoldi. Piccinini estava em Lavarone para cortar pedras e se exercitava com o cinzel. Provavelmente foi ele mesmo que apelidou a cabeça de Tommaso.
Na entrada do bairro, próximo às primeiras casas ao lado do nosso horto se ergue a Igrejinha carregada de história a ser contada.

O teto tem as alas em cruz. Nas laterais se abrem duas janelas altas e estreitas com os montantes em colunetas de mármore. Na fachada há uma rosácea em arabescos. O portão em ferro batido com um rangido ao abrir é sustentado por gonzos robustos cravados na grade de pedra, fechado por um ferrolho de correr e trancado por uma grossa corrente.

Na altura da mão há uma laje de pedra com uma fenda no centro com a palavra "esmolas" esculpida.

Ao lado da igrejinha se eleva o campanário que eu denominei de "Campanário da Fé".

Não é alto e imponente como os outros da região, nem hirto como a pena de um chapéu alpino, é modesto de estatura, talvez não chegue aos dez metros de altura. A estrutura é particularmente articulada com uma forma medieval. Tem pouco mais de noventa anos de vida e suporta bem o tempo. A base é quadrangular com os ângulos bem definidos.

A construção no alto é do tipo torre de castelo, é dividida em planos superpostos com cornijas revestidas de cimento. O intrincado do desenho é arabesco. Tem janelas falsas e verdadeiras, ameias e seteiras, colunas e pilastras com faces perfuradas em um estilo arquitetônico original que o torna charmoso e único entre tantos. O cume com platibandas dentilhadas se transforma em concha onde desabrocha como uma flor vigorosa, uma cruz que se eleva no horizonte dos Pré-Alpes venezianos.
Um grande pedaço de madeira colocado transversalmente tem fixado o sino de voz argêntea.

O projeto foi feito pelo meu parente, Rodolfo Bertoldi, com o auxilio de outros compatriotas. Os desenhos hoje enquadrados são recordações da sua filha Mirta, com outros documentos que testemunham sua história. Ei-la aqui:
A zona de Lavarone Bertoldi, durante o primeiro conflito mundial de 1915/1918 foi teatro de ásperas batalhas. O bairro foi evacuado, os homens capazes foram arrolados como soldados no exército austro-húngaro, do qual dependiam e foram mandados imediatamente para a frente de batalha. O restante da população foi levada para os campos de refugiados da Áustria setentrional.

Nos longos e intermináveis anos de inferno de trincheira e naqueles de exílio concomitante, em alguns elementos do bairro nasceu a idéia e foi feita uma promessa de construir uma igrejinha com campanário se tivessem a sorte de voltar a salvo nas suas casas de Bertoldi.

Terminada a guerra, remendadas as paredes das próprias casas, pensaram na construção da igreja. Vários acostumados a pegar na colher de pedreiro e ter o prumo, como imigrantes em terras estrangeiras, desenharam um projetinho caseiro desfrutando da própria inteligência e da prática de construção.

Sem ajuda externa dispuseram do material existente desfrutado as pedras locais. A prefeitura cedeu a madeira necessária, cortando árvores da comunidade. Todos trabalhadores se apresentaram gratuitamente segundo as próprias características da profissão. A primeira construção se dedicou à igrejinha em forma de cruz, depois se pensou no campanário, e ai surgiram os primeiros obstáculos. O cimento apenas não bastava, além de custar caro. Havia necessidade de ferro para armar a estrutura da torre. Se aguçou o pensamento e se achou o remédio. Os campos entorno estavam com resíduos bélicos enferrujados deixados pelo exército austríaco. Canos de fuzis, baionetas, pedaços de canhões e metralhadoras, ferros retorcidos que a fúria bestial bélica transformou em sucata se espalhava por toda parte.

Fez-se uma abundante coleta e se decidiu armar a estrutura do campanário com aqueles objetos abandonados pelo exército. Assim as armas que serviram para matar e destruir brutalmente a humanidade em guerra serviam agora para consolidar a estrutura de um templo ao serviço da paz, do perdão, do amor e da fraternidade.

O campanário desejado pelos crentes, dura ainda e desafia os tempos. È como um farol que irradia a luz da fé e serve para lembrar aos descendentes como seria melhor e mais útil usar o ferro para a construção da paz em vez daquela guerra que tudo destrói e anula.

Osmar Antonio Mammini, arquiteto, aquarelista, membro da Academia de Letras de Campos do Jordão, membro do conselho consultivo da revista Téchne

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