11/01/2019 ( Caderno:
Seção Saúde )
Existe algo de excessivo no tamanho das porções de comida servidas em
restaurantes e isso não ocorre apenas nos Estados Unidos. Estudo realizado por
equipe internacional de pesquisadores, que contou com o apoio da FAPESP, mostra
que porções exageradas são comuns em restaurantes mundo afora.
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O estudo publicado no British Medical Journal pesou
e mediu o valor calórico de refeições em restaurantes populares no Brasil,
China, Finlândia, Gana, Índia.
O resultado mostrou que 94% das refeições à la carte e 72% dos
pratos servidos em fast-foods continham mais de 600 quilocalorias –
mais que o consumo energético por refeição recomendado pelo Sistema de Saúde da
Inglaterra (NHS).
Os pesquisadores encontraram uma relação significativa entre o peso da porção
servida e o seu conteúdo calórico. De acordo com as medições, refeições como,
por exemplo, o tradicional arroz, feijão, frango, mandioca, salada e pão (841
gramas e 1.656 kcal), servido em qualquer restaurante do Brasil, ou o clássico
ganês fufu com carne de bode e sopa (1.105 gramas e 1.151 kcal) e o típico prato
indiano biryani de carneiro (1.012 gramas e 1.463 kcal), além de extremamente
calóricas, primam pela quantidade exagerada de comida.
“A obesidade é um problema mundial, causado por vários fatores como
sedentarismo, ingestão de alimentos processados, açúcar e também pela quantidade
excessiva de comida ingerida. Uma parcela da população pode estar confundindo
fome com vontade de comer. Esse estudo mostra que para combater a obesidade é
preciso também olhar para esses excessos”, disse Vivian Suen,
do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRPUSP), uma das autoras do artigo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade uma epidemia
global que aumenta o fator de risco para doenças como cardiopatias, AVC e
diabetes. Estima que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso, sendo 600 milhões
com obesidade.
No artigo, exceto na China – que apresentou pratos menos calóricos que nos
outros países estudados –, o consumo das porções servidas em restaurante
fornecia entre 70% e 120% das necessidades calóricas diárias para uma mulher
sedentária, cerca de 2.000 quilocalorias.
“Não levamos em conta, nesse estudo, o modo de preparo e a composição
nutricional dos pratos estudados. O fato é que, pelos restaurantes pesquisados,
há uma parcela da população que está comendo muito”, disse Suen.
O estudo mediu as calorias de 223 amostras de refeições populares de 111
refeições escolhidas aleatoriamente de pratos à la carte e
fast-food de restaurantes de Ribeirão Perto (Brasil), Pequim (China),
Kuopio (Finlândia), Acra (Gana) e Bangalore (Índia).
Os dados foram comparados com um estudo anterior realizado na Universidade de
Tufts com as medidas de restaurantes de Boston (Estados Unidos). A escolha dos
restaurantes devia atender a distância dentro de um raio de 25 quilômetros de
cada centro de pesquisa que participou do estudo.
“A análise quebrou dois sensos comuns: de que não estamos só comendo pior,
mas em exagero, e que em termos de calorias muitas vezes um prato considerado
saudável pode engordar mais, deixar o balanço energético mais positivo, do que o
de um fast-food”, disse Suen.
Embora os resultados tenham mostrado que, na média, as refeições
fast-foods continham menos calorias (809 calorias) que as servidas
à la carte (1.317 kcal), o estudo está longe de ser uma defesa desse
tipo de restaurante.
“Isso só mostra que enquanto estamos prestando atenção em
fast-foods, com campanhas para alimentação saudável, que são muito
positivas e necessárias, estamos deixando de lado fatores importantes como o
tamanho das porções que estamos comendo. Isso pode ter um impacto grande também
na obesidade mundial”, disse Suen.
Compensação
A pesquisadora explica que as porções exageradas têm efeito também no chamado
mecanismo compensatório.
“Normalmente, quando uma pessoa não obesa faz um almoço muito reforçado, ela
tende a sentir menos fome e comer menos no jantar, por exemplo. Porém, e isso já
foi muito estudado pelo grupo de pesquisadores da Tufts University, os obesos
perderiam essa percepção. Portanto, não ocorre mais essa regulação de comer
menos na refeição subsequente”, disse Suen.
Ela destaca que outro problema é que o organismo de pessoas obesas também
cria resistência para a perda de peso.
“Existem muitas dietas. Tem, por exemplo, a low carb, a dieta com
alto conteúdo proteico e a dieta com baixo teor de gordura. Mas qual é a melhor
delas para emagrecer? Até hoje não se sabe. O que conta é o conteúdo calórico
total no longo prazo. Logicamente, a qualidade do alimento também é importante.
Comer carboidrato de má qualidade, gordura saturada, carboidrato simples, isso
contribui para doenças relacionadas ao excesso desses alimentos. Porém o ganho
de peso está relacionado ao excesso de calorias”, disse.
O artigo Measured energy content of frequently purchased restaurant
meals: multi-country cross sectional study (doi: 10.1136/bmj.k4864), de
Susan B Roberts, Sai Krupa Das, Vivian Marques Miguel Suen, Jussi Pihlajamäki,
Rebecca Kuriyan, Matilda Steiner-Asiedu, Amy Taetzsch, Alex K Anderson, Rachel E
Silver, Kathryn Barger, Amy Krauss, Leila Karhunen, Xueying Zhang, Catherine
Hambly, Ursula Schwab, Andresa de Toledo Triffoni-Melo, Priscila Giacomo
Fassini, Salima F Taylor, Christina Economos, Anura V Kurpad, John R Speakman,
pode ser lido em www.bmj.com/content/363/bmj.k4864.