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(Veja as fotos abaixo da matéria)
Masais: A
tribo africana que se alimenta de sangue Por
Márcia Pavarini
Aquele
homem, uma figura exótica de quase dois metros, estendeu-me a vasilha com o sangue ainda quente.
Como
hóspede da tribo, recusar aquela oferenda não seria a melhor idéia, mas beber o sangue não seria a mais
inteligente. Busquei socorro no olhar altivo e impassível do meu guia, que
também pertencia ao clã, mas percebi que a decisão deveria ser minha.
No
chão, a carne trêmula de um boi recém
abatido já estava sendo devorada, crua, pelos demais membros do clã. E,
antes que eu tivesse de degustar o menu completo, cochichei no ouvido do guia
que eu era vegetariana.
Eu
acabava de ter o privilégio de testemunhar um ritual comum entre o povo da tribo
mais colorida e famosa do mundo, a dos MASAIS na África, ou seja: beber o sangue
fresco e comer a carne crua do gado.
BERÇO ESPLÊNDIDO DOS MASAIS
Os
Masais vivem nas planícies da região chamada Rift Valley
que vai desde o norte da Tanzânia, abrangendo o Parque Nacional do Serengeti, ao
sul do Quênia, no Parque Nacional de Masai Mara.
Nestas
savanas acontece um dos maiores espetáculos da natureza: a migração em massa de
milhares de animais, que atravessam o rio Mara uma vez por ano durante a seca, de
junho a agosto, em busca de pastagem.
O GADO QUE CAIU DO CÉU

Os
MASAIS acreditam que durante a criação da terra, o Deus da chuva, NGAI,
confiou-lhes todo o gado. Baseados nessa crença, todo gado do mundo pertence a
eles e constitui o seu bem mais precioso. Em razão disso, muitas vezes entram em
guerra com criadores não Masais,
invadindo suas terras e apoderando-se de bois e vacas.
Na
verdade, seus ancestrais vieram do Egito conduzindo lentamente o gado e foram se
misturando com o povo negro do alto Nilo e leste da África.
VISITA? SÓ
COM A PERMISSÃO DO MANDA-CHUVA
Avessos
a estrangeiros e turistas, os Masais não gostam de visitas e repudiam, com a
agressividade dos seus robustos bastões, as fotos feitas sem prévia autorização.
Mas, decidida a enfrentar esse desafio, fiz a cabeça do meu guia de Safári, o
Masai Alex, cuja aldeia ficava nas proximidades do meu alojamento.
Dois
dias depois, Alex veio com a boa notícia: o líder havia autorizado a minha
visita à aldeia, após uma reunião entre os membros do clã.
A RECEPÇÃO 
SAMPU-ERRAP,
um Masai alto, esguio e brioso, trajando a típica vestimenta vermelho-sangue, já
me esperava na entrada da Boma, aglomerado primitivo dos Masais, fazendo sinal
para que eu o acompanhasse.
A BOMA
é rodeada por uma cerca alta feita de arbustos secos entrelaçados.
Dentro
da Boma ficam as cabanas ou “ENKAJI”, semelhantes às OCAS, construídas com
galhos, rejuntadas com esterco e barro e, finalmente, cobertas com pele de gado
para garantir a impermeabilidade.
Cada
família de Masai vive numa Enkaji
INTIMIDADE DE UMA ENKAJI
Sampu-Errap me convidou para entrar em sua ENKAJI,
uma honraria concedida a poucos mortais. Tive de entrar agachada pelo pequeno
orifício de acesso.Fiquei surpresa ao perceber que ali dentro também não dava
para ficar em pé.

Foi
necessário esperar alguns minutos até que minha vista se acostumasse à penumbra
do interior. Minúsculas rachaduras permitiam que tímidos raios de sol
penetrassem na rústica vivenda. Foi quando então consegui enxergar que o
ambiente estava dividido em quatro
cubículos: dois deles com o chão forrado de pele de carneiro.
_ Num
deles, explicou Sampu-Errap, dorme a esposa com os filhos pequenos, no outro
dorme o chefe da família. No terceiro, continuou, colocamos a vaca e o bezerro e
no último uma cabra e seu cabritinho. Assim, todas as manhãs retiramos o leite
das duas e alimentamos os nossos filhos.
O DOTE É PAGO COM O EQUIVALENTE EM GADO:

Quando
a menina atinge a puberdade, por volta de 15 anos, é apresentada a outro clã e oferecida em
casamento. O interessado deve pagar aos pais da pretendida, o equivalente em
gado, o valor a ela atribuído.
ALIMENTAÇÃO
O
alimento comum dos MASAIS é leite, carne e sangue que retiram do gado
vivo.
O
leite é armazenado em cuias que são
lavadas com urina de gado.
Um
touro fornece em torno de um galão de sangue por mês, enquanto a vaca, no mesmo
período, fornece ½ litro.
Para
retirar o sangue sem sacrificar o boi, amarram um torniquete no pescoço
comprimindo a veia jugular para que ela
fique em evidência. Com uma pequena lança, o líder deve perfurar a veia
e coletar o jato de sangue numa
vasilha especial de madeira. Solto o torniquete, o sangramento é estancado e a
ferida tratada com esterco.
Em
razão desta dieta rica em proteína, os MASAIS possuem uma envergadura fora dos
padrões africanos. Homens e mulheres são altos, esguios e fortes.
TODA CRIANÇA MASAI TEM DOIS DENTES INCISIVOS
EXTRAÍDOS
Fiquei
intrigada quando percebi que todos
os Masais possuem uma falha dupla nos dentes incisivos. Sampu me deu a
explicação: pela falha desses dentes introduzem uma cânula com alimento ou
medicamento de raízes, quando um doente (criança, jovem ou adulto) não consegue
se alimentar.
OS MORTOS SÃO DEIXADOS PARA AS
HIENAS

Até
bem pouco tempo atrás, os MASAIS não enterravam os seus
mortos.
No
ritual fúnebre, bezuntavam o corpo do moribundo com banha de vaca, cobriam-no
com pele de animal e deixavam-no nas savanas para que as hienas o consumissem.
GUERREIROS NATOS

Os
Masais são guerreiros natos e destemidos caçadores de leões. Fabricam suas
próprias lanças com as quais enfrentam o rei da selva, como sinal de bravura,
para impressionar uma jovem pretendida.

Após a
caçada ao leão, o corajoso jovem tem o direito a usar um cocar feito com a juba
do predador e carregar no peito a sua maior presa.
 Na tribo
dos Masais experimentei o honorável Cocar de juba de
leão
CUMPRIMENTO MASAI
Uma
cuspida na mão antes do cumprimento é sinal de respeito, reverência e
consideração.

DIVIDINDO CASA E ESPOSA

Os
jovens Masais que foram
circuncidados no mesmo ano permanecerão num mesmo grupo pelo resto de suas
vidas. Eles se ajudarão mutuamente e colocarão suas casas e esposas a disposição uns dos
outros.


Atualmente
alguns jovens Masais já freqüentam as escolas e misturam-se entre os comuns com
roupas convencionais. Muitos até desempenham papel importante nas capitais com
cargos burocráticos, mas jamais deixam de assumir as suas origens.
 Mapa
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