Por Márcia Pavarini
Texto e fotos
São nada menos do que 14 horas de viagem do Brasil até o Qatar. Do aeroporto Internacional de Doha ao centro da cidade, na área dos Hotéis, são aproximadamente 40 minutos de carro. O trajeto é feito pela moderníssima “Corniche Avenue”, com quatro pistas de cada lado, limpa, cuidada, arborizada e revestida por asfalto tão impecável quanto o revestimento de uma quadra de tênis.
Em poucos minutos, é possível vislumbrar os edifícios, verdadeiros espigões, que se erguem em direção ao céu, envidraçados, com arquitetura arrojada, estilo vanguardista, muitos assumem formas surreais que parecem desafiar a gravidade. A impressão, é que existe uma espécie de competição entre as construtoras, para ver quem vence na criatividade das edificações.
As terras desérticas do Qatar eram povoadas por pescadores, criadores de pérolas e camelos até os anos 1940. A descoberta e a exploração das jazidas de óleo e gás foram determinantes para transformar a paisagem inóspita em metrópole. Hoje, o Qatar (com metade do tamanho de Sergipe) é um dos países mais ricos do mundo, com um dos maiores PIB per capita do planeta.
A riqueza é tamanha, que o cidadão não precisa pagar imposto para que o governo sustente a máquina governamental. Não é o máximo?
O Qatar, já foi um protetorado britânico e ganhou independência em 1971, mas desde meados do século 19, está sob a batuta dos herdeiros Thani.
Conhecido como um emirado do Oriente Médio, o país ocupa a pequena Península do Catar na costa nordeste da Península Arábica. Ao sul, faz fronteira com a Arábia Saudita, e o Golfo Pérsico envolve o resto do país. O deserto cobre a maior parte do seu território, alternando rochas e dunas de um branco imaculado.
Para aproveitar cada detalhe da visita, o conselho é usar óculos escuros, para se proteger da claridade “atômica” (e das ruguinhas de expressão). Protetor solar e chapéu são indispensáveis. Sim, num céu azul de intenso, brilha um sol implacável, de fazer sentir saudade dos dias mais quentes do Piauí (Estado mais quente do Brasil, com máximas de até 44 graus). O calor é abrasador, daqueles que dá até pra fitar ovo no asfalto.
O que não poderia ser diferente, já que o país foi construído no deserto.
Doha, a capital, está localizada às margens do Golfo Pérsico, na costa leste do Emirado. A cidade é moderna, vibrante e o principal centro econômico, cultural e financeiro do país.
Apesar da modernidade, o padrão de comportamento modesto e recatado, mostra a perspectiva de uma nação baseada no conservadorismo, onde a essência patriarcal, as regras e a sharia, permanecem intactas.
A mescla de estilo entre moderno e tradicional compõe o visual da capital.
Presente e passado vivem em perfeita harmonia, onde, paralelamente aos edifícios vanguardistas, aos shoppings e às exuberantes Marinas, estão as casas brancas, os bairros antigos, os mosques, o mercado de camelos, o fervilhante “souq”, capazes de nos levar aos dois extremos do túnel do tempo.
Aproximadamente 50 quilômetros da capital Doha, ficam o belíssimo Forte Zubarah, construído por volta do ano 1938, pelo Sheik Abdulah Bin Qassin Al Thani e as ruínas de assentamento da antiga cidade de Zubarah, com mais de 2.000 anos. Ambos declarados patrimônios da Humanidade pela UNESCO.
O Forte Zubarah é uma construção quadrilátera em adobe encimada por quatro torres (uma em cada canto) que harmonizam a arquitetura. No interior, abriga o Museu histórico, com peças e artefatos de escavações das ruínas da antiga cidade do mesmo nome, que fica a poucos quilômetros dali.
No centro comercial, fica o moderníssimo shopping Villagio, que se tornou um ponto turístico, que nada fica devendo aos suntuosos shoppings de Las Vegas. No Villagio Shopping, assim como aqueles do Estado americano dos cassinos, o teto imita céu aberto e tem até um canal com passeios de gôndolas ao estilo da romântica “Venezia”, que fazem a alegria dos visitantes. Lojas de grife, restaurantes finos, decoração majestosa e muito glamour, são os ingredientes para o sucesso e a receita para intenso movimento do local.
Já na parte velha da cidade, o ponto mais visitado é o fervilhante Souq WAQIF – tradicional mercado aberto na cidadela. O labirinto de corredores, dividido por setores, conduz a estreitas ruelas ladeadas por lojinhas de quinquilharias, roupas, artesanato típico, comidas, temperos, tapetes, perfumes, ouro, prata , numa profusão de cores e aromas que leva o visitante ao mágico mundo das histórias de Ali Babá, das 1001 Noites. O mais delicioso é se deixar perder pelos labirintos, sem se preocupar com o caminho de volta, porque haverá muitos.
Não muito distante do Souk, fica o mercado de Falcões, onde essas aves de rapina ficam em exposição para serem vendidas.
A prática da falcoaria no Qatar remonta à época dos beduínos e se arraigou ainda mais a partir de 2010 com a realização anual do Festival de Caça e Falcões.
A obsessão pela cetraria - arte de criar, treinar e cuidar de aves de rapina – chegou ao ponto de os falcões terem à sua disposição um hospital de ponta, com um salão de beleza no centro de Doha.
Os cidadãos do país gastam quantias astronômicas com esses animais, cujo preço oscila entre os US$ 400 (equivalente a cerca de R$ 800) por um falcão comum a US$ 20 mil (R$ 40 mil) pelos cobiçados falcões brancos.
Mas, a adrenalina vai além do borbulhante mercado. Depois de se perder pelo “souq”, visitar o Grande Mosque, a Fortaleza Al Kout, o Museu Nacional, e a luxuosa marina “Pearl Qatar”, no Porto Arábia, é hora de se empoeirar nas areias do mágico e silencioso deserto, onde o começo é o fim e o fim é o começo.
Em companhia de um guia, é possível descobrir novas sensações num 4x4, e sentir um friozinho na barriga ao atravessar, a toda velocidade, os cânions de areia e descer em queda livre as dunas douradas.
A sudoeste do país, o deserto abraça o lago salgado de Khor al-Udayd, um braço do golfo Arábico, onde o visitante poderá deleitar-se com o sol poente, que desempenha um espetáculo suntuoso ao cair de cada tarde.
O Qatar será o primeiro país árabe muçulmano a sediar uma Copa do Mundo, o país será o anfitrião de uma festa no deserto em 2022.