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    Primeiro bem tombado do Estado de São Paulo será entregue restaurado para a população, dia 28 de fevereiro
    Postado em 25/02/2016

    Igreja barroca de 1788, Nossa Senhora da Candelária, será vista pela primeira vez em sua forma original.

    Dia 28 de fevereiro será entregue parte do restauro do primeiro bem tombado no Estado de São Paulo, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária

    Igreja barroca de 1788 será vista pela primeira vez em sua forma original.

    A cidade de Itu recebe no próximo domingo (28/02), um grande e valioso presente de aniversário, a primeira etapa das obras de restauro da Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária. A cerimônia acontece a partir das 10h, e entregará para população o que há pelo menos um século estava escondido embaixo de camadas de tinta.

    O início desta fase das obras de restauro aconteceu em fevereiro de 2015, após um ano, todo o altar mor com douramentos e prata vistos em poucas igrejas será oficialmente entregue. As obras realizadas no local, pelo restaurador Julio Moraes e equipe, através do gerenciamento da OSCIP Museu a Céu Aberto, surpreenderam inclusive os técnicos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que teceram elogios ao trabalho realizado pelos artistas que o fizeram e também aos restauradores que trouxeram à tona todo o esplendor das pinturas e entalhes da igreja ituana.

    Em visita realizada no mês de julho, Mauro Bondi,técnico do Iphan ficou impressionado com o resultado obtido. “Temos aqui um dos altares mais bonitos do estado de São Paulo”, comentou.

    As telas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo, localizadas nas laterais do altar mor, foram retiradas e também passaram por restauro e o resultado será apresentado no dia 28. Para que haja uma noção da dimensão do trabalho realizado, somente as molduras das telas somam mais de cem metros de douramento.

    A viabilização do restauro da Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária de Itu aconteceu pela parceria entre a Prefeitura de Itu, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Arquidiocese de Jundiaí, o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

    A OSCIP Museu a Céu Aberto incumbiu-se do gerenciamento geral do projeto e dos serviços; o restauro de escultura, pintura e douração ficou a cargo de Julio Moraes Conservação e Restauro; a firma Inspirati Arte, Cultura e Comunicação responsabilizou-se pelo tratamento de madeiras e suporte operacional para as obras de restauro, e VEC Engenharia e Gestão garante o suporte técnico de engenharia e logística. O licenciamento, fiscalização e acompanhamento geral são feitos pelo IPHAN e pela Secretaria Municipal de Cultura de Itu.

    O roteiro:

    10h – missa – na chegada do público - entrega de folder  e projeção no telão da igreja (vídeo com 5 minutos)com informações sobre o restauro.

    10h50 – acabada a missa o MC chamará autoridades a frente. A primeira fala será do restaurador e na sequência IPHAN, Padre, Prefeito, intercaladas com a música do quarteto**.

    **A obra musical do Padre Jesuíno do Monte Carmelo

    Luís Roberto de Francisco*

    A música na memória ituana

    Durante as primeiras décadas do século XX a música realizada nas Igrejas Católicas, no Brasil, seguia a escola europeia imposta ao mundo ocidental pelo Papa Pio X, em 1903. Partituras de compositores italianos que se inspiravam no Canto Gregoriano e na música do Renascimento foram amplamente divulgadas. A tradicional música de compositores brasileiros, cultivada por séculos nas pequenas cidades, foi perdendo espaço, tornando-se cada vez mais rara até desaparecer. As poucas obras que permaneceram perderam a referência de seus compositores. Assim a memória musical foi se apagando, ficou esquecida.

    Esse fenômeno não foi diferente em Itu. Os grupos musicais atuantes nas igrejas principais da cidade: Matriz de Nossa Senhora Candelária, Bom Jesus e Carmo pouco conheceram da música dos compositores locais dos séculos XVIII e XIX. A atuação reformadora do Pároco Mons. José Maria Monteiro (1893 – 1952) e do Padre Jose Ramon Zabala (1892 – 1959), o Jesuíta uruguaio, regente do Coro do Bom Jesus, além dos Frades holandeses do Carmo, abriu espaço para a inserção de músicas trazidas da Itália, de compositores como Mons. Lorenzo Perosi, Luigi Camatari, Luigi Bottazzo, além de tantos alemães.

    Apesar da grande produção musical ituana, entre os séculos XVIII e XIX, centenas de obras compostas para serem cantadas em festividades, quase nada ficou; uma ou outra peça para a Semana Santa e para as novenas. A reforma litúrgica de 1965, trazida pelo Concílio Vaticano II, e interpretada no Brasil como caminho para a absorção de ritmos da música do rádio para a Igreja, sepultou de vez qualquer referência à composição local.

    O estudo da antiga música ituana

    O interesse pela produção musical religiosa ituana não nasceu na Igreja, mas em instituições de pesquisa, como o IPHAN e a Universidade; só se tornou relevante a partir da pesquisa de Mário de Andrade (1893 – 1945) e do musicólogo paulistano Regis Duprat na década de 1960. O seu contato com obras deixadas pelo Padre Jesuíno do Monte Carmelo, até agora o mais antigo compositor conhecido de Itu, abriu caminho para conhecermos as raízes da música ituana.  Mário de Andrade, na década de 1940, estudou, enquanto pesquisador do IPHAN, a produção de Jesuíno como pintor, arquiteto e escultor. Tratou também da sua condição de músico-intérprete, mas quase nada sobre o ofício de compositor do padre mulato. A falta de repertório e as mínimas citações de memorialistas e recibos de atuação de Jesuíno reduziram o interesse pelo tema.

    Somente na década de 1990, quando o Coral Vozes de Itu iniciou um trabalho contínuo de interpretação da música local, é que a obra musical do Padre Jesuíno voltou à vida. A criação do Museu da Música – Itu, em 2007, potencializou esse trabalho, pois a instituição reúne, hoje, a transcrição de todas as suas obras conhecidas até o momento.

    A maior responsável pela transcrição das obras do Padre Jesuíno do Monte Carmelo é a Profa. Dra. Lenita Waldige Mendes Nogueira, pesquisadora do Museu Carlos Gomes (Campinas) e do Instituto de Artes da UNICAMP. Seu trabalho de transcrição reuniu partes de vozes de instrumentos para montar as partituras. Foi necessário um conjunto de correção, pois os erros, nas partituras manuscritas, são comuns. Imaginem o compositor que escreveu as partes para todos os músicos, que só percebeu o erro na hora do ensaio. Ali, ensaiando no coro da igreja, sem pena e tinteiro para corrigir, somente indicou aos músicos as notas certas. O músico, que tocou várias vezes a peça, quando chegava naquele pedaço, já sabia que teria que trocar a nota, e assim o erro ficou escrito. Isso ainda é comum, mesmo com tantos recursos disponíveis.

    O mecenato e a arte em Itu

    Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (1764 – 1819) chegou a Itu na primeira metade da década de 1780. A passagem do século XVIII para o XIX, foi época de renovação cultural nos hábitos, no ambiente, na formação das pessoas e nas artes em nossa terra. Como reflexo da riqueza da produção açucareira e do comércio, ao longo das décadas de 1760 e 1820, grande investimento artístico e arquitetônico veio vingar o período anterior, de visível pobreza (época do bandeirismo e caça ao ouro). As famílias que enriqueciam na zona rural, com engenhos de açúcar, planejavam, palmo a palmo, um cenário para sua atuação cultural; elegeram a vila para exibir a notoriedade econômica que conquistavam.

    As transformações urbanas em Itu vieram rápidas, com igrejas novas, alguns sobrados, casas maiores, mais elegantes e confortáveis. Nos conventos, frades-mestres ensinavam os meninos a ler, escrever, contar, o Latim, História, Catecismo e Música. Encomendavam imagens religiosas nos padrões vigentes na metrópole para os altares e procissões. Era tempo de rococó, pintura nova e decorativa; o douramento dos altares marcava uma época de fausto. Entre os patrocinadores dos devaneios artísticos destacam-se dois: Padre João Leite Ferraz, construtor da matriz ituana e Maria Francisca Vieira, mecenas da decoração do templo.[1]

    Foi nesse ambiente de deslumbre que chegou a Itu o jovem mulato santista, Jesuíno Francisco de Paula Gusmão.

    O mecenato da arte, para a elite local, se tornou instrumento de diferenciação, argumento de excelência para exibir o capital adquirido nos engenhos, para fortalecer a cultura religiosa, o exibicionismo, que o Barroco tão bem proporciona. Serviu para pôr em evidência seus haveres, sua notória economia. Os artistas viviam buscando regiões promissoras para realizar seu projeto, para embelezar o lugar à sua moda.

    Havia diversos artistas radicados em Itu nesse tempo (das artes maiores e das artes menores): pintores, arquitetos, escultores, santeiros, douradores (os papéis se confundiam), ourives, cantores, músicos e compositores. Eles precisavam de investimento para viver da sua arte, maioria deles mulatos forros, libertos de sua origem através do talento, que utilizavam para sobreviver, para serem aceitos (alguns eram respeitados como intelectuais nos círculos restritos da vida da elite) ou para corresponder à sua fé. Elite e artistas superavam a situação social da escravidão através da arte.

    Para compreender o papel de Jesuíno nesse contexto vejamo-lo em três momentos distintos, que se integram em processo de amadurecimento: o inaugural,

    [1] Veja FRANCISCO, Luís Roberto de. “Igreja Matriz de Itu: novos aspectos históricos”. In Revista da Acadil, vol. VI, 2004, p. 47-57.


    Fonte: MCAtrês Assessoria em Comunicação e Marketing / Foto Divulgação


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