Por Márcia Pavarini

Cachoeira Múlafassur

À beira do nada, longe de tudo, mais distante do que a sua ousada imaginação, encontram-se as Ilhas Faroe.
Em meio à natureza intocada, cercadas por montanhas verdes, estendem-se fiordes profundos, cachoeiras que despencam dos penhascos e vilarejos coloridos, que parecem saídos de uma pintura.

Lago suspenso Sorvágsvatn

Crédito Foto: Dimitrios Karamitros
Em cada curva da estrada, uma nova cena de cartão postal se revela. Entre todos os cenários que parecem desafiar a lógica, o Lago Sørvágsvatn reina absoluto, famoso por criar a ilusão de estar suspenso sobre o oceano, tornou-se o cartão-postal mais cobiçado e fotografado das Ilhas Faroé.

Cenário do -Sem Tempo Para Morrer (James Bond)

Sem Tempo Para Morrer:
Mas nem só de paz vivem essas paisagens: foi aqui, nesse cenário selvagem e isolado, que James Bond viveu seus últimos minutos no cinema. A dramática cena final do filme “007 Sem Tempo para Morrer”, foi gravada na ilha de KALSOY, uma das mais remotas do arquipélago. Um lugar real, acessível apenas por balsa, que ganhou fama mundial como o palco da despedida do agente secreto mais famoso do planeta.

Além da beleza selvagem, esse arquipélago carrega uma geografia tão única quanto fascinante, e entender esse cenário ajuda a viver a experiência de forma ainda mais completa.
Um quebra-cabeças de ilhas

Mapa Faroe Islands
As Ilhas Faroé formam um arquipélago de 18 ilhas (17 habitadas) no meio do Atlântico Norte, entre a Escócia, a Islândia e a Noruega. Embora façam parte do Reino da Dinamarca, têm autonomia política, língua própria (o feroês) e uma cultura que mistura tradições vikings com um estilo de vida moderno e muito conectado à natureza.

Mapa dos Tuneis que interligam as ilhas de Faroe Islands
O mais espetacular, é que a maioria das ilhas está interligada por túneis submersos que cortam o fundo do oceano como veias silenciosas, unindo as “peças” dispersas desse arquipélago que se encaixam como um quebra-cabeça moldado pela natureza.
A capital Tórshvan – na Ilha de Streymoy

Torshvan - Capital
Pequena no tamanho, mas grande em personalidade, TORSHVAN, a capital das Ilhas Faroé, mistura tradição e modernidade de um jeito único. No bairro histórico de Tinganes, casas de madeira pintadas de vermelho e becos estreitos contam histórias de séculos passados. A poucos passos dali arranha-céus de vidro, hotéis modernos e centros comerciais mostram o lado vibrante e cosmopolita da cidade, onde o antigo e o novo convivem em perfeita harmonia.
Túnel submerso com rotatória

Túnel EYSTUROYAR com rotatória no fundo do mar (Crédito Olavur Frederiksen
É também, nas profundezas dessas águas, que está o único túnel do mundo, com uma ROTATÓRIA SUBMERSA: o túnel EYSTUROYAR, com mais de 11 km de extensão. No coração desse colosso de engenharia, de $ 275 milhões de dólares, uma escultura azulada orienta os viajantes pelo entroncamento circular, bem no fundo do mar, como se fosse uma rotatória numa estrada qualquer.
Mais ovelhas do que habitantes

O nome “FAROE” vem do nórdico antigo “Færeyjar”, que significa “ilhas das ovelhas”
A presença das ovelhas nas Faroé não é apenas bucólica, é cultural. Nas Ilhas Faroé, as ovelhas superam os humanos em número. Enquanto a população é de cerca de 56 mil pessoas, há aproximadamente 70 mil ovelhas espalhadas pelas ilhas. Isso explica por que elas aparecem nas estradas, nas montanhas e nas trilhas, como se fossem parte do cenário oficial.

As ovelhas ocupam um papel central na gastronomia, na economia e até no turismo. Em um projeto criativo chamado Sheep View, elas até ajudaram o Google a mapear as estradas do arquipélago com câmeras presas ao lombo.
Casas com telhados de grama


Kirkjubour
Uma das marcas mais pitorescas das Ilhas Faroé, são as casas com telhados cobertos de grama, um traço encantador da arquitetura local que se mistura à natureza, como se as construções brotassem da própria terra
Kirkjubour – Um povoado medieval


Kirkjubour, na ilha de Streymoy, é o mais antigo e histórico dos povoados Faroenses. Ali, entre ruínas medievais e casas seculares, a grama cobre os telhados como um manto vivo, espelhando um passado longínquo.
A padaria mais famosa da ilha - Breyðvirkið (Braydvirkid) Bakery


Fiquei hospedada na capital Torshvan, na rua 42 Jonas Bronksgota, bem ao lado da famosa panificadora, Breyðvirkið (Braydvirkid), mencionada nos guias de viagem como parte da história autêntica do local. São pães artesanais feitos com fermentação natural, pelas jovens empreendedoras Frida e Randi. Os pães são tão disputados, que muitas vezes é necessário ficar em fila na calçada.
Sem Tempo Para Morrer

Como chegar à misteriosa ilha de Kalsoy no remoto cenário do fim de James Bond.

Para quem decide seguir os passos (finais) de James Bond, a jornada até Kalsoy, (uma das ilhas do arquipélago), já é parte da experiência. A ilha não tem aeroporto nem ligação por ponte ou túnel com as outras ilhas. O acesso é feito exclusivamente por balsa, saindo do vilarejo de Klaksvík, na ilha de Borðoy.


Túnel da Ilha de Kalsoy Credito- Frida Weihe
A travessia leva cerca de 20 minutos e desembarca no pequeno porto de Syðradalur. A partir dali, a viagem é feita em ônibus, até o vilarejo de Trolanes. O trajeto percorre a ilha de Kalsoy de norte a sul, por uma estrada sinuosa, que atravessa quatro túneis estreitos, cavados na rocha, conectando minúsculos vilarejos. Ali, há alguns pequenos restaurantes familiares, que mantém a culinária tradicional.
A trilha até o farol e a “tumba” de James Bond


Farol de Kallur
O grande destaque da ilha de Kalsoy, tanto para fãs de cinema quanto para amantes de paisagens épicas, é a trilha que leva ao Farol de Kallur (Kallur Lighthouse), no extremo norte da ilha, acima do vilarejo de Trøllanes.


A caminhada até o farol leva aproximadamente 1 hora (só ida), dependendo das condições climáticas. O trajeto atravessa campos abertos, escarpas expostas ao vento cortante, e vistas absolutamente cinematográficas do mar e das ilhas ao redor. Em dias de neblina, o clima fica ainda mais dramático.

E é lá, sobre um platô rochoso cercado por penhascos, que está a lápide cenográfica de James Bond, deixada como memorial simbólico após as filmagens de No Time To Die (Sem Tempo para Morrer - 2021). A cena final do filme foi criada usando imagens aéreas captadas ali, em Kalsoy, combinadas com efeitos visuais.
Para os fãs, estar ali é como cruzar a fronteira entre realidade e ficção.
Outras atrações de Kalsoy

Apesar do apelo cinematográfico recente, Kalsoy já era conhecida por suas paisagens selvagens e lendas locais. Entre os destaques:
• A estátua da mulher-foca (Kópakonan) em Mikladalur, que homenageia uma das mais famosas lendas feroesas — a história trágica de uma criatura mítica capturada por humanos.
• As vistas do cume de Nestindar, uma trilha mais exigente, mas que recompensa com um visual ainda mais espetacular.
• Vilarejos intocados, como Húsar e Hattarvík, onde o tempo parece ter parado, alguns com menos de 20 habitantes.
Roteiro de 7 dias nas Ilhas Faroe: um paraíso remoto do Atlântico Norte
Dia 1 - Lago Suspenso

Lago Suspenso Sorvágsvatn - Crédito Foto: Dimitrios Karamitros
Chegada em Vágar e trilha até o lago suspenso: A chegada em Faroé, costuma ser pelo único Aeroporto internacional (Vágar Airport), na ilha do mesmo nome. E nada melhor do que começar a viagem com um dos cenários mais icônicos do arquipélago: o lago suspenso Sørvágsvatn (também conhecido como Leitisvatn).
A trilha começa perto do vilarejo de Miðvágur e leva cerca de 1 hora (só ida), passando por paisagens verdes e ventosas até chegar ao ponto onde o lago parece desaguar direto sobre o mar.
O famoso lago suspenso parece desafiar as leis da natureza: ele repousa sobre falésias com vista direta para o oceano, criando a ilusão de flutuar acima do Atlântico. Um dos cenários mais surreais e fotografados das Ilhas Faroé.
Se ainda houver fôlego, vale caminhar até o mirante sobre a cachoeira Bøsdalafossur, onde o lago realmente se encontra com o mar.
Dia 2 - Kalsoy: onde termina James Bond

Pegue a balsa em Klaksvík, na ilha de Bordoy, e reserve o dia para explorar Kalsoy, uma das ilhas mais remotas e dramáticas das Faroé. Estradas estreitas atravessam túneis escavados na rocha e conectam vilarejos que parecem esquecidos no tempo.
Para uma descrição mais completa desse dia, veja o trecho acima sobre Kalsoy.] Antes ou depois da trilha, aproveite para visitar o vilarejo de Mikladalur, onde fica a estátua da lendária mulher-foca (Kópakonan) uma das histórias mais marcantes da mitologia faroesa.
Dica: leve lanche e esteja preparado para encarar vento forte, lama e possíveis variações de tempo durante a trilha.

Vilarejo de Saksun - Crédito Foto: Marcos C. Pereira / Sara Wong
Dia 3 - Vilarejos pitorescos do Norte: Saksun, Tjørnuvík (ambos na ilha Stremoy) e Gjógv (na ilha Eysturoy)
Reserve o dia para explorar três dos vilarejos mais encantadores das Ilhas Faroé, cercados por natureza bruta e arquitetura típica com telhados de grama.
• Saksun: um vilarejo isolado entre montanhas, com uma lagoa que muda de aparência conforme a maré. Um dos lugares mais fotogênicos do arquipélago.
• Tjørnuvík: praia de areia preta e vista para os rochedos Risin e Kellingin ("o gigante e a bruxa"). Ótimo para um piquenique com visual dramático.
• Gjógv: famoso por suas fendas naturais que funcionam como porto. Casinhas coloridas e muito charme, mais parece cenário de conto nórdico.
Dica: São boas paradas para fotos, caminhadas curtas e pausa para café em pequenos cafés locais.

Cachoeira Múlafossur - Vagar
Dia 4 – Cachoeira Múlafossur – Trilha até a icônica cachoeira da Ilha Vágar
De volta à ilha de Vágar, o destaque do dia é Gásadalur, um dos vilarejos mais fotogênicos das Ilhas Faroé, e onde fica a espetacular cachoeira Múlafossur, que despenca diretamente no mar, com montanhas ao fundo e casas com telhado de grama emoldurando a paisagem.
É a paisagem mais famosa do país e, pessoalmente, uma das mais hipnotizantes que já vi.
A trilha até o mirante é curta e acessível, e a vista muda de acordo com o clima.

Baía de Vestmanna

Falésias de Vestmanna
Dia 5 – Passeio de barco pelas falésias de Vestmanna
Saindo da baía de Vestmanna, na ilha de Streymoy, embarque para um passeio de barco de cerca de 1h30. O trajeto percorre falésias imponentes, túneis naturais e cavernas marinhas, revelando formações rochosas esculpidas pelo vento e pelas ondas.
Uma experiência que mostra a natureza faroesa em sua forma mais bruta.

Puffin - Papagaio-do-mar
Dia 6 – Ilha de Mykines e seus papagaios-do-mar
Pegue a balsa até Mykines, famosa pela colônia de papagaios-do-mar (puffins). A trilha até o farol de Mykineshólmur é cercada por penhascos e vistas deslumbrantes. É um dos pontos mais selvagens e fotogênicos do arquipélago.
Obs.: As visitas dependem das condições do mar e do clima.
Dia 7 – Tórshavn e Kirkjubøur