Por Marcia Pavarini
Alojada no estreito banco junto à janelinha do Cessna, mal podia controlar
minha ansiedade. Assim que o piloto acionou o motor, não pude conter a emoção,
já que eu aguardava, há muito, esse momento.
O fone de ouvido do pequeno avião não conseguiu reduzir o ruído das batidas
do meu coração.
Eu estava prestes a presenciar uma das mais espetaculares obras de uma
civilização antiga, muito avançada em seu tempo. Um feito tão espetacular, que
só pode ser visto do ar. A façanha se torna ainda mais assombrosa porque foi
feita há mais de 2400 anos, e até hoje, não se sabe exatamente o seu
propósito.
Eu não poderia estar falando de outra obra, senão sobre as misteriosas e
intrigantes linhas de Nazca, localizadas a 450 km ao sul da capital Lima, no
Peru.
Conhecido como o coração do Império Inca, e de outras civilizações antigas, o
Peru guarda mistérios até hoje indecifráveis.
Entre os grandes segredos das antigas civilizações desse país, as LINHAS DE
NAZCA continuam sendo um dos mais fascinantes enigmas da História. Igual a
outros grandes e inexplicáveis mistérios, essas imponentes gravuras em meio ao
Pampa peruano, atribuídos a uma civilização, Nazca, Pré Incaica, e datados entre
450 a.C e 600 d.C anos, atraem uma grande leva de turistas, arqueólogos,
cientistas, historiadores, místicos, curiosos e peregrinos a caminho de Machu
Picchu. Em 1994 as linhas foram declaradas Patrimonio Mundial e é a maior
atração turística da costa sul, sem o que, a pequena cidade do deserto de Nazca,
que leva o mesmo nome, seria um insignificante ponto no mapa.
O Cessna decolou em direção ao céu límpido e azul do deserto de Nazca.
Depois de alguns minutos, começam a surgir, lá embaixo, as gravuras no chão
arenoso e árido, em meio à planície desértica. Quando o pequeno avião atingiu a
altitude e estabilizou, o piloto iniciou a explicação de como seria o
sobrevoo.
Informou que iria sobrevoar duas vezes cada figura, para que os passageiros
de cada lado do avião, pudessem ver com clareza.
Em poucos minutos, avistamos as primeiras linhas. Do alto, formam um
impressionante emaranhado de linhas retas, obliquas e figuras geométricas que se
cruzam a partir de um eixo central, a perder de vista, aparentemente sem
lógica.
OS GRANDES GEOGLIFOS DE NAZCA
Depois de um grande suspense, começam a surgir o contorno das primeiras
figuras lá em baixo: a BALEIA(52m), depois, uma intrigante figura humanoide a
que chamam de ASTRONAUTA(40m).
E assim, fomos sobrevoando outras tantas. São centenas de figuras biomorfas,
representando animais, plantas e organismos vivos, como as alegóricas figuras da
ARANHA(46m), do MACACO(110m), do CACHORRO (84m), de aves, como o intrincado
desenho do COLIBRI(50m), do CONDOR(135m); do ALCATRAZ(285m) formado
por um zigue-zague que une o corpo à sua cabeça, com um enorme bico que se
projeta por muitos metros de comprimento; a IGUANA(155m). Ainda, entre as
figuras que representam as aves, estão o PELICANO(85m); o PAPAGAIO(175m); O
PÁSSARO(88m). A BALEIA(52m) e a ORCA(54m) surgem como representação de do
mar.
Entre outras figuras biomorfas, estão a ÁRVORE(88m), e a MÃO(50m);
entre as figuras geométricas estão o LABIRINTO(72m) com semelhança a um cérebro;
e a ESPIRAL(), uma curva plana que gira em torno de um eixo central; tem também
as linhas de uma FLOR(124m).
Um pouco mais afastada do complexo das gravuras, está a figura de um
gigantesco LAGARTO(180m). Infelizmente, essa belíssima obra Nazca foi cortada ao
meio pela Rodovia PANAMERICANA Sul, que atravessa o deserto de Nazca, antes de
ser considerada área protegida.
São mais de 800 linhas, 300 figuras geométricas (geoglifos) e 70 desenhos de
animais espalhados numa área de 500km2. Existem, ainda, incontáveis figuras
espalhadas por toda região do deserto de Nazca, que estão sendo catalogadas
pelos incansáveis arqueólogos, que continuam em busca de respostas.
Cada figura tem sua magia, entretanto, as mais emblemáticas são as figuras da
ARANHA (com traseiro acentuado e pernas estendidas) e a do MACACO, como uma
extravagante cauda retorcida. Até hoje, não se sabe como os Nazca conseguiram
desenhar, com tanta precisão, o labiríntico caracol do rabo do macaco, sendo ele
uma figura de proporção gigantesca, cuja aparência só se revela num
sobrevoo.
Foi um dilema escolher entre apreciar as figuras ou fazer as fotos, mas com a
ajuda do solícito copiloto Júlio, pude coordenar as duas coisas.
Afinal, o que são as linhas de Nazca e por que motivo os Nazca gravaram, na
areia do deserto, gigantescas figuras que só podem ser vistas do ar, e qual a
técnica utilizada para tamanha precisão?
As Linhas de Nazca são um conjunto de geoglifos, figuras geométricas e
desenhos biomorfos de animais e plantas, localizados no solo do deserto de
Nazca.
COMO FORAM FEITOS OS GEOGLIFOS?
Foram retirados, da superfície do deserto, pedras e cascalhos queimados do
sol e amontoadas de ambos os lados das linhas, com isso, ficou exposta a parte
mais clara, arenosa e rica em gesso, criando sulcos, formando, assim, os
desenhos, as figuras e as linhas em relevo negativo.
Surge a pergunta: Como foi possível fazer desenhos tão precisos e em
proporção gigantesca no chão, sem usar um avião para checar a precisão das
medidas à certa altura? Até o momento, não há uma explicação científica sobre
qual método os Nazca se valeram para desenvolver as linhas e figuras com tamanha
perfeição e, tampouco, para que serviam.
Ao longo do tempo, surgiram muitas hipóteses sem comprovação cientifica, e
essas questões continuam sem respostas.
Existem muitas teorias, algumas delas justificam as linhas como indicativas
de fluxo de água, e que as figuras são marcas de fontes de água subterrânea,
indicando a localização de poços e aquedutos; outros relacionam as linhas e
figuras com rituais e símbolos de fertilidade, outras pregam serem gigantes
calendários astronômicos. Algumas das teorias vão além da imaginação, supondo
que as linhas de Nazca deveriam ser uma espécie de sinal de pouso, visível
apenas para Deuses que residiam no alto do céu, que para os Nazca iriam retornar
à Terra. Uma outra teoria, é que as linhas foram criadas para serem pistas de
aterrissagem para aeronaves de extraterrestres.
A teoria que mais foi levada a sério, foi a da alemã Maria Reiche (1903
– 1998), uma arqueóloga e matemática, que dedicou sua vida a estudar as linhas
“in loco” e que atribuiu um significado astrológico às linhas, segundo o qual,
algumas figuras parecem corresponder diretamente às constelações, visíveis
durante certas estações do ano. Por exemplo, que a figura do Macaco corresponde
diretamente com a Constelação Ursa Maior, e a Baleia (ou golfinho) e Aranha
estão relacionadas com a constelação de Orion.
Ainda segundo a arqueóloga, as gravuras foram realizadas pelas culturas
Paracas e Nazca entre 900 a.C a 600 d.C.
O fato é que Nazca segue sendo um mito, e apesar das inúmeras tentativas para
desvendar seus segredos, arqueólogos, cientistas, astrônomos, matemáticos,
estudiosos e até ufólogos, continuam estudando para tentar descobrir os enigmas
desses traçados.
O primeiro avistamento desse extraordinário feito da civilização Nazca,
ocorreu por volta do ano de 1930, quando as pessoas começaram a viajar de avião
sobre a área.
Pista para aterrissagem de aeronaves de Extra Terrestres? Traços de
aeronautas Pré históricos? Um mapa astronômico? Pista de Pouso para os
Deuses? Local de rituais? Indicação de poços subterrâneos? Até hoje, esse local
guarda o segredo de uma civilização à frente de seu tempo. Esses são enigmas de
uma civilização que o homem da atualidade não conseguiu desvendar.
Futuras gerações terão de se esforçar para desvendar os Misterios de Nazca,
tão bem guardados no deserto, obras que provocam irresistíveis atração e
curiosidade, e ainda, impressionam, fascinam, arrebatam e hipnotizam desde os
mais leigos visitantes, até renomados arqueólogos, historiadores e
astrônomos.
DICAS DE CIRCUITOS
A maioria dos visitantes limitam-se a sobrevoar as Linhas de Nazca,
entretanto, a região tem muito mais a oferecer.
-1) Como o IMPERDÍVEL Cemitério NAZCA, Zona
Arqueológica CHAUCHILLA que fica a poucos quilômetros da cidade do mesmo nome.
Numa planície árida, pedregosa, rodeada por montanhas no horizonte. Os Nazca
mumificavam seus mortos em posição fetal, envolviam-nos com suas vestimentas e
os enterravam em valas feitas de tijolos de adobe, com todos os seus pertences.
Os Xamãs eram mumificados com suas tranças de vários metros. Em razão do clima
seco, as múmias estão muito bem preservadas, sendo possível ver até a pele e
expressão do rosto de adultos e crianças. São inúmeras tumbas expostas ao longo
da vasta área. Hoje, o Cemitério de Nazca é um dos mais importantes museus de
múmias a céu aberto.
2) Outra visita IMPERDÍVEL é ao ACQUEDUTO CANTALLOC
DE NAZCA . Com uma engenharia de vanguarda, os NAZCA construíram aquedutos em
forma de caracóis de pedras redondas, que se embrenham terra adentro, até
encontrar o olho de água. Eles descobriram as nascentes e as direcionavam para o
túnel subterrâneo. O mais extraordinário dessa obra, é que esses aquedutos foram
construídos nos séculos IV e V e até hoje está em perfeito funcionamento, sendo
utilizados pelos locais para irrigação de campos cultiváveis da área.
3) Visita à FÁBRICA DE CERÂMICA EMILIA - A Emilia
não é uma fábrica de Cerâmica qualquer, o proprietário Andrés Calle Flores,
estudou por 20 anos, as cerâmicas artesanais feitas pela civilização Nazca, até
descobrir todos os longos processos de fabricação, misturando vários resíduos de
rochas de diversos tons, e areia do rio, bem como seu cozimento em temperatura
correta, até seu acabamento. O velho Andrés passou o segredo da técnica ao seu
neto Andrés Crisóstomo Calle, que se auto denomina “El nieto ceramista”, e hoje,
dá continuidade à obra do avô.